O MONSTRO DA ESPERANÇA (Por Silas Lopes)

julho 30, 2018

Eis a verdade que há dias me sufoca e implora pra ser confessada: quando eu não tinha o olhar lacrimoso que hoje trago e tenho, cultivava o perigosíssimo e já quase leviano mau hábito de sonhar. Mas “o sonho da razão produz monstros”, adverte o pernóstico apreciador de arte. Ora, bem o sei eu, que vi nascerem hidras, quimeras, brinquedos assassinos, bombas atômicas, Collors, Lulas, exércitos brancaleones e o maior de todos os males, o vilão que prolonga o tormento dos homens e atende pelo nome de esperança. Sim, meninos, eu vi todas esses assombrosas anomalias malfadadas às quase glórias que todo monstro que se preze atinge no penúltimo quadrante dos filmes do gênero. Não foi uma nem duas vezes que, num arroubo delirante, vi o objeto dos impossíveis desejos beirar a materialização e, quando já se comemorava o apocalipse, o mundo insistia em ser salvo, as coisas retornavam à realidade e a vida despertava, retomando seu marasmo.

Nesses vinte e poucos anos de casa arrumada que a nação vive desde que se tornou efetivamente democrática e, portanto, realmente nacional, demos vários beijos na morte e cá estamos, vivos, acordados e cheios de um tédio que vira sempre a mesma melodia. Enquanto a vitrola repetir essa cantilena modorrenta de que isso aqui não tem jeito e que o que anda ruim ainda vai correndo piorar, é certo que as coisas só vão degringolar a largos passos. O pessimista é sempre um preguiçoso, como ensina o Mário Sérgio cujo nome de herói do meio-campo faz até a gente relevar e quase esquecer seu carregado e galopante sotaque gaúcho. De fato, o pessimista é tão preguiçoso que profetiza o caos e o incêndio só pra sentar e ver o circo ser destruído pelo fogo que cabia a ele ir apagar.

E qual a necessidade de falar de sonho e pessimismo, misturando Nietzsche, Goya, Belchior, Cazuza e Cortella numa mesma prosa ruim?! Nenhuma. Mas nem só do que é necessário se fazem as crônicas. Antes, o contrário. E estou aqui pra lhes contar que é justamente por se afinar ao necessário que a nossa nação chegou ao vil tormento em que se vê. Essa musiquinha feita de tédio e pessimismo que se houve em cada canto é a prova de que geral esqueceu o principal: no peito dos desafinados um dia já bateu um coração.

E se você não sabe do que estou falando, seja humilde e veja o burro videotape.

Como em todo fim de século, o apocalipse era coisa iminente e todos aguardavam a redenção. Mesmo sabendo que sonhar era ingênuo, os meninos passaram guache no rosto e disseram “e daí?!” E foi com o mesmo descaso que Oswaldo Montenegro dá à opinião alheia que a juventude cara pintada foi às ruas e praças pra acreditar num futuro melhor e fazê-lo acontecer. O Brasil dava a mão à palmatória e nomes antes desconhecidos tiveram de ser engolidos pelo cenário nacional dessa Terra de Papagaios em que só se repetia a mesma ladainha há quinhentos anos. Pela primeira vez, como nunca antes na história desse país, ouvia-se falar de Vitória – assim mesmo com o “V” maiúsculo – do povo periférico de uma Bahia periférica em um Brasil que é periferia de um mundo periférico em uma galáxia periférica e blábláblá bláblábla blábláblá…

Certo que 93 mostrou ao mundo o que jovens com tinta no rosto, coração na chuteira, força e vontade em todos os demais lugares do corpo e da alma são capazes. Nas pernas de Alex não havia alegria, que isso não é coisa de homem. Havia a força que as coisas têm quando têm que acontecer. A zaga do Corinthians ficou mais Odara que Caetano enquanto o menino driblava o mundo e escoiceava a bola, as desigualdades e as injustiças de que padece o futebol dessa província que os podres poderes insistem em transformar num império colonial. Depois de derrubar a invencibilidade de um Corinthians de Viola, Rivaldo e Tupãzinho, era a vez de Casagrande e Renato Gaúcho conduzirem o favoritíssimo Flamengo à impiedosa faca de Chuky, o brinquedo assassino, que era como se conhecia o improvável monstro criado pelos sonhos rubronegros baianos daquele ano.

E se o caro leitor vinha achando que a nação, a juventude cara pintada, a democracia, nacionalização e os sonhos de antanho eram menções a qualquer coisa que não à única coisa sobre a qual se deve falar nesses dias decisivos para o país, que vá curar suas ilusões em boas doses de Valdick Soriano porque ninguém aqui merece o desgosto de ter o rosto molhado por suas lágrimas. Esta crônica não é sobre tristeza ou solidão ou tampouco sobre os rumos da política do Brasil. É sobre sonhos. Sonhos como o daquele povo que lotava a velha fonte pra assistir cada apresentação de um Vitória que não se apequenava e a ninguém chamava de senhor, porque ninguém é senhor de ninguém. Bem mais do que espectadores, aquela massa fez merecer o apelido de juventude cara pintada justamente por tomar parte na luta. Como tupinambás furiosos, os sonhadores que lotavam a velha fonte, assim como o novo Barradão, iam juntos com o Brinquedo Assassino destruir o homem branco conquistador, na base da antropofagia.

Aquele Vitória era um sonho. Sonho inconsequente e megalomaníaco como o que fez o time ir atrás do tetracampeão Bebeto, a quem se juntaram Túlio, Chiquinho e outros craques que os comentaristas da época, assim como os de hoje, diriam que não estavam ao alcance do time. Não há comentaristas nos sonhos, graças a Deus! O sonho é livre desses idiotas da objetividade, que nunca saberiam explicar a vinda de um jovem contratado do Real Madrid, que marcaria pra sempre o futebol de Pindorama e forçaria os tais papagaios a aprenderem não apenas a difícil pronúncia de seu nome, como também a evidente percepção de que a Bahia que é do Vitória e não o oposto.

Só em sonho o Vitória procuraria o Porto para buscar a contratação de um de seus atacantes titulares, que o presidente do Flamengo, meses antes, teria ido pessoalmente a Portugal tentar repatriar, sem sucesso. Pois aquela geração sonhava e produzia monstros como foi o Vitória de Artur, rei de uma távola redondíssima em que Cláudio, Fernando, Tuta, Fábio Costa, Rodrigo e Leandrinho ensurdeciam o mundo com a ópera de Toninho Cezero, conquistando um merecido, irreverente e imprevisível terceiro lugar no brasileirão de 1999. Devaneio mais irreal e improvável que este, talvez, seja apenas disputar a final da Copa do Brasil de 2010, com um elenco compatível com o meio da tabela de uma série B, mas com uma vontade monstruosa, daquelas que só os sonhos produzem.

O problema do Vitória, nessa quase finda década que, pra a gente, nem começou, não é o técnico, o elenco ou mesmo a diretoria. Tanto assim que pouca gente trocou tanto essas variáveis, em tão pouco tempo, sem mudar a constante de sofrimento e ultraje que têm sido esses já tão longos dias maus. O problema é que essa geração não quer sonhar. O time se acostumou a viver um dia após o outro e manter um técnico enquanto ele conseguir ganhar em casa, empatar fora com quem for mediano e perder de pouco pra quem estiver bem. Puseram cabresto nas expectativas do time e há tempos são os jovens que adoecem. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão e estes têm sido o tom do descompasso e desperdício com os quais a diretoria, seja ela qual for, vem gerindo seus (nossos) recursos. Governados pela opinião de quem esconde seus reais intentos, engolindo a ousadia e evitando o perigo, todo mundo vai pra a arena com medo de perder e monta um time básico, que respeite as leis da física, da economia e viabilidade.

Sem querer dar uma de vizinha metida a médica que tem sempre uma receita pra qualquer que seja o mal, ainda que a medicina ocidental tenha fracassado em curá-lo, mas com mais receio ainda de ser cobrado pela omissão quando chegar o Tribunal de Cristo com a missão de cobrar de quem tinha o que dizer e não falei, assevero que o Vitória precisa voltar a crer no seu destino. Pobre só come o que presta quando ele mesmo planta ou cria. É o caso. Quem vier de fora, tem que vir trabalhar para – e não em lugar de – quem é nosso. Pra ser grande como nasceu pra ser e ganhar o que nunca teve, só com a valentia de quem não tem o que perder. A conversa é besta, mas a conta é simples: Põe na base a esperança dos resultados improváveis e nas contratações a pressão do cotidiano. Contratar jogador mediano pra compor elenco é a morte da esperança.

É preciso voltar a fazer o óbvio, enquanto ele ulula: com o pouco que se tem pra contratar, urge trazer os poucos com potencial pro brilho. Deixa as áreas opacas pra quem é da casa e precisa aprender com o banco, as oportunidades de fim de jogo e a experiência de quem chega. Trazer um monte de meia-boca só serve pra deixar a base com fome e pra sonhar, segundo minha vó, é preciso dormir de barriga cheia.

 

Foi com um sonho que Martim Luther King fez toda aquela presepada e resolveu na base da conversa um problema histórico quem nem meio mundo de bala tinha conseguido consertar. Oportunidade aos garotos da base e o reforço de poucas e boas contratações sempre foi a receita de nossos melhores resultados. E nem se diga que isso era no passado e que as coisas mudaram porque agora é diferente e tem negócio de coisa de história de não sei mais o quê. Sonhos não envelhecem. ao contrário dos pessimistas e idiotas que, a cada hora que passa, ficam dez semanas mais chatos, burros e próximos da morte.

 

Em um tempo no qual a verba de televisão do Vitória é cinco ou seis vezes menor do que a de outros times que disputam o mesmo campeonato; em que o nosso orçamento global se compara aos gastos com divisão de base de alguns de nossos rivais, ou a gente volta a crer no impossível e ir atrás dele com a gana que só o sonho é capaz de gerar ou nos habituamos à tirania da mediocridade, com a qual não combinam brasileiros corações. Já passou bastante da hora do Brasil e do Vitória, que são duas faces da mesma moeda, aprenderem que se as coisas são inatingíveis, isso não é motivo para não querê-las. Que será dos caminhantes, sem a mágica presença das estrelas?!

Não haverá um super-homem que faça mudanças imediatas por aqui, mas, sim, eu acredito na rapaziada que não tá na saudade e constrói a manhã desejada. O problema é que eu não faço ideia do que o Vitória tem desejado. Ninguém faz ideia de quais são os rumos ou fins do planejamento atual ou da evidente falta dele. Aliás, faz é tempo que o Barradão só é ocupado por tédio e enxugamento de gelo, sem propósitos ou mistificações. E é justamente das ocupações que vêm os sonhos, como ensina o Pregador (Elesiastes 5:3), que também ensina a achar a voz do tolo sempre onde se encontra a multidão de palavras. Que o Vitória troque o tédio pelos sonhos dessa juventude de que ele tanto precisa, deixando de ser o paraíso dos comentaristas, empresários e verborragistas de toda ordem. Se esta geração não quis sonhar, que sonhe a que há de vir!

 

COLONIZADOS CORAÇÕES

julho 11, 2016

Um fantasma parece rondar os corações e mentes de grande parcela da torcida Rubro-negra: o fantasma do colonialismo. É como se esta galera estivesse condenada a imitar frequentadores dos bordéis de ponta de rua, aqueles estabelecimentos onde só é possível se emocionar com as putas, digo, jogadores, que vierem de fora e já estão em final de carreira. E o pior. Quanto mais as criaturas pirraçam, mais o povo que adora ser enganado se apaixona.

É óbvio que o parágrafo acima pode ser usado para vários exemplos na história do Leão, mas agora, conforme já percebeu o sábio leitor, estou falando especificamente de daberto.  (Atenção, revisor, favor não corrigir. Deixe o nome do sujeito como daberto mesmo, pois nada que se assemelhe com gol deve constar na nomenclatura do indigitado)

PUTAQUEPARIU A IMPRECISÃO!!!

Lá se vão exatos 13 jogos e o cara contratado a peso de feijão, que anda mais caro do que ouro, não balançou a rede uma única vez. E o mais grave, conforme já destaquei aqui mesmo nesta impoluta tribuna, é que o referido é daquele tipo que entra em campo já querendo receber homenagem porque venceu cinco vezes o campeonato nacional. Então, por conta destas glórias pretéritas, ele acha que o mundo lhe deve favores. E acha também que seria se rebaixar muito dar um pique e voltar para ajudar na marcação. E, até quando perde a bola, o que acontece em 96,78% das vezes, o sujeito bota a mão na cintura e fica parado, provavelmente esperando aplausos. E eles vêm, pois a torcida acha que o indigitado tá evoluindo, não importa que ele perca gols e mais gols. “É só azar, pois ele está evoluindo”, dizem os compreensíveis.

Agora, já que adentramos a seara da falta de sorte, vejam esta situação comparativa em relação ao endeusamento de uns e falta de paciência com outros. O menino Rafaelson, de apenas 19 anos e contracheque esquelético, estava parado há seis meses. Entrou na peleja contra o Sport, perdeu gols e foi imediatamente execrado por grande parte da torcida, mesmo o Vitória tendo brocado. Já daberto, que deve receber não sei quantas vezes mais do que o guri de 19 anos, nunca fez um gol, perdeu vários e mais vários de cara, iguais aos de ontem, nos tira pontos sagrados e a torcida se cala ou aplaude.

E aplaudir alguém depois de um empate tenebroso diante deste fraquíssimo time do fluminense, francamente. Aliás, o time carioca é tão ruim que, muito provavelmente, no final do ano, quando estiver na degola, nem mesmo o mais ordinário advogado vai querer defender a equipe para não manchar o currículo. Era jogo, portanto, para o Vitória meter, ao menos, 18 gols, mas daberto não quis. Porém, não podemos dizer nada. Conforme ouvi ontem no estádio e em outros ambientes insalubres, é preciso ter paciência.

É graça uma porra dessa?

Assim fica DIFIÇIU, amigos de infortúnios. Enquanto muitos torcedores, técnico e diretoria não compreenderem que os jogadores da base são aqueles que encarnam a possibilidade de um milagre para nossos suburbanos e periféricos corações, continuaremos a louvar ex-atletas em fim de carreira e a penar diante de times fracos, que nos roubam pontos e a esperança. E por falar nela, finalizo lembrando que a esperança não combina nem rima com colonizados corações.

Pode continuar rindo, pois, se depender de parte da torcida, você jamais será criticado.

Pode continuar rindo, pois, se depender de parte da torcida, você jamais será criticado.

TEIMOSIA, COVARDIA E IRRESPONSABILIDADE

julho 8, 2016

Num vou mentir. Mesmo agora, passadas as regulamentares 48 horas, o gosto de bota de sargento não saiu do canto da boca. Traduzindo: ainda estou injuriado, virado nos 600 DEMÔNHOS por conta de toda a infâmia da última quarta-feira diante do cruzeiro, no Barraquistão. De modo concomitante, a covardia rimou com a irresponsabilidade. Como é que porra o time fica com um jogador a mais e não consegue se impor?. Pior. Perde-se completamente após as modificações e ainda é derrotado pela fraca equipe celeste em casa. A sacanagem foi tanta que, naquela maldita noite, tive vontade de sair distribuindo não apenas os palavrões que proferi, mas também carrinhos nas canelas de uns e algumas voadoras no pescoço de outros.

Para começar, recorro ao filósofo Fábio Jr. e pergunto ao técnico Mancini. “O que há que há? O que é que tá se passando por esta cabeça para vossência insistir com Amaral de titular? E pior. Por que DESGRAÇA continuar usando a improdutiva dupla sertaneja tiago surreal  & alípio como opções para mudar o rumo das pelejas?”

PUTAQUEPARIU A TEIMOSIA!!!

Sim, minha comadre, sei que temos um elenco limitado e etc e coisa e tals e que o principal (ir) responsável é o presidente. Porém, Mancini parece não querer se ajudar. Afinal, os meninos da base que entraram na fogueira, caso de Gabriel e Nickson, foram muito melhores do que estas injúrias. No entanto, ele segue apostando no caos. Deve fazer isto também porque conta com o apoio e/ou silêncio de boa parte da torcida.

Aliás, uma confissão. Depois de muito relutar, decidi revirar as gavetas corroídas de cupim aqui no meu maltratado muquifo, peguei o diploma de jornalismo que há mais de 20 anos estava no mofo,  vesti minha camisa listrada de repórter investigativo e, finalmente, descobri o enigma que inquietava a nação: Amigos de infortúnios, a verdade que não salva nem liberta, é uma só: tiago surreal tá comendo, pelo menos, metade da torcida do Vitória. Sim, só pode ser isso para tanta e tamanha condescendência. Não existe outra explicação minimamente plausível.

Outra hipótese é psicológica. A história de que no jardim do vizinho a grama é sempre mais verde. Então, como a infâmia veio da sardinha, os torcedores acham que demos um by-pass neles (como gosta de gargantear o presidente). Assim, faço nova confissão. Neste exato momento, minha maior preocupação é que a sardinha pretende fazer uma limpa no elenco. É bem provável que a diretoria do Vitória (e parcela da torcida) já devem estar babando, sonhando, para trazer portentos do naipe de tiago surreal.

Oremos. Oremos, mas continuemos a bradar também pelas DIRETAS JÁ!!!

P.S E a resenha do jogo? Ora, resenha? Vocês são masoquistas, rebain de fariseus?

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Ô, véi, na moral, abaixe a porra destes dedos aí para que eu não me rete ainda mais com você, pois a situação não tá nada boa para ficar fazendo joinha, não. 

HONRA AOS HERÓIS

julho 4, 2016

Sim, minha comadre, confesso: quando se trata do Esporte Clube Vitória, este rouco e cabeludo locutor costuma escorregar pelas hipérboles. E mais. Sempre tento, normalmente sem sucesso, transformar uma simples pelada de quinta categoria numa epopeia de botar Homero no chinelo.  Quando acontece um lance de perigo, então, valei-me, meus culhões de cristo, as mais terríveis tragédias gregas transformam-se em meras e adocicadas sessões da tarde na fuleira pena deste que vos aborrece.

Mas, hoje não. Tal e qual um idiota da objetividade, ficarei restrito somente à insossa concretude dos fatos. Nada mais, nada menos.

Assim, começarei o relato informando precisamente o que aconteceu na manhã de domingo em Minas Gerais, na peleja entre Vitória x Cruzeiro. Foi algo bem simples. Os jogadores Rubro-Negros perderam seus documentos, identidade, CPF, registro de nascimento, tudo, e incorporaram o espírito guerreador das heroínas e dos heróis da Independência da Bahia. Marinho, por exemplo, agiu como se fosse a própria Maria Felipa, comandante negra do 2 de Julho, que liderava as tropas e organizava a porra toda. Os outros jogadores não deixaram por menos e reverenciaram com louvor a memória de Joana Angélica, Maria Quitéria, dos Caboclos e das Caboclas, do bravo povo de Cachoeira, da Ilha de Itaparica e todas as adjacências.  Até mesmo os Encourados de Pedrão (que o presepeiro Ministério Público proibiu de desfilar) estava representado nos gramados mineiros. Éramos milhares de 11.

Para que vocês tenham uma ideia da força revolucionária baiana, vou contrariar minha religião e apelar para a fria e insípida numerologia. Seguinte. Nos primeiros 20 minutos de combate, atuando no hostil campo adversário, o Leão já havia criado nove chances claras de gol e os poderosos donos da casa apenas duas. Porém, na terceira deles, a casa fedeu a homem. 1 x o para os celestes.

Como é impossível construir epopeias com poucas desgraças, no início da segunda fase da guerra, Ramon, zé ruela desgraçado, que já me fez gastar muito minha maltratada garganta pra defendê-lo, realizou um ato de DONZELO enojando meu baba. Opa. Reescrevendo em prol da verdade dos fatos. O jovem zagueiro Rubro-Negro, em um momento de desespero, acabou sucumbindo à pressão do combate e tombou. Assim, o time do Vitória ficou com um guerreiro a menos. Aproveitando a superioridade numérica, os oportunistas mineiros fizeram 2 x 0.

Porém, quando a tragédia parecia iminente, Wagner Mancini incorporou o Corneteiro Lopes, aquele que, diante da sugestão do comandante Barros de Falcão, que ordenara o recuo por causa da superioridade das tropas inimigas, desobedeceu e deu o sinal para a cavalaria avançar.

E assim foi. Mais não digo porque depois disso, tal e qual Manoel Bandeira diante de Teresa, não vi mais nada.  Só sei que “os céus se misturaram com a terra. E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas”.

Ah, sim. A peleja terminou empatada em 2 x 2. O Vitória, com um guerreiro a menos, decidiu não virar a labuta, pois seria heroísmo demais para uma mera manhã de domingo.

P.S Por falar em atos revolucionários, encerro com o tradicional grito DIRETAS, JÁ!!!

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A lente de Tainá Moraes capta a altivez de um dos grandes símbolos da independência que inspirou o bravo time do Vitória em Minas Gerais

VAIAS? PRA QUE TE QUERO?

julho 1, 2016

Os que habitam o cimento das arquibancadas sabem que ali é o local onde levamos ao paroxismo nossos delírios, frustrações, desejos, esperanças e outras ficções. Entre um longo degrau e outro e os quase intransponíveis alambrados, aproveitamos as verdades absolutas e os fingimentos dos 90 minutos e das prorrogações para conviver e expulsar nossos demônios, longe do falso conforto gourmetizado dos pei pé vius que transmitem a vida sem riscos nem outras estripulias arrebatadoras, pois tudo tá ao alcance do controle remoto.

Lá, no estádio, especialmente no Barraquistão, nécaras. Não há replay, nem ensaio. É tudo à vera, no quente, na hora, sem direito a água com açúcar para acalmar angustiantes e intensas emoções. Portanto, com o couro curtido em ancestrais pelejas nestes inconsequentemente deliciosos e insalubres ambientes não sou eu que vou dizer ou determinar o jeito de torcer de seu ninguém. Cada um que siga o que lhe manda a (in) consciência no momento.

– Ah, sêo Françuel, chega desta conversa atrapalhada metida a filosofia poética. Eu quero saber é o seguinte: como é que foi o jogo, pois estava num reggae e não achei carona para ir ao Barradão? Pergunta-me a sumida e impaciente moça do shortinho Gerasamba.

Como nunca deixo a referida sem resposta, tentarei falar sobre o jogo, mas sem esquecer de tratar do que já desenvolvi nos dois parágrafos anteriores, senão os parcos leitores vão me acusar de estar enrolando mais do que tiago surreal no meio de campo do Vitória.

Sem longas nem muitas delongas, seguinte foi este. A partida foi decidida e protagonizada, para o bem e para o mal, pelos meninos da base e também por um rapaz renegado por todos, inclusive por este rouco e cabeludo locutor.

Apesar dos 829 desfalques, o Vitória começou bem, pressionando o Sport e etc e coisa e tals. Amaral, ex-meio campista e atualmente baiana de acarajé, perdeu um gol de cara. Logo depois Dagoberto recebeu um lançamento primoroso de Euller e, mais uma vez, ficou no quase. Dominou errado e mandou um (mais um) peteleco para a meta. (Ah, imaginem se fosse o contrário. Uma hora desta estaríamos todos no velório do lateral-esquerdo. Porém, como Dagoberto o novo queridinho da torcida, ele tem todo o direito de ficar no quase. Pouco importa que tenha sido contratado a peso de feijão para balançar as redes e não pra ficar no quase).

Mas derivo. O fato é que, em um erro de posicionamento da defesa o Sport abriu o placar e vi que a casa poderia feder a homem. E isso só não aconteceu porque, ato contínuo, o juiz expulsou um jogador do leão pernambucano. No final do 1º tempo, o renegado Vander fez um belo gol e um gesto mais bonito ainda ao se desculpar com a torcida pelas suas feiuras recentes.

Mas, esqueçamos isso. Vamos falar de beleza. Que obra-prima o segundo gol do Vitória. Um lançamento genial de William Farias para o CRACAÇO Euller se infiltrar no meio de 18 zagueiros, dominar no cangote e mandar de direita para as redes.

Pouco tempo depois, em um cruzamento certeiro de Vander, o menino Nickson, que substituiu Amaral e fez uma partida monstruosa, guardou o seu de cabeça. 3 x 1. Jogo praticamente decidido, pois mais um jogador do Sport foi expulso, né? Sim, se não estivesse em campo o Vitoria, que não consegue entender a vida sem dificuldades.

Faltando pouco mais de 15 minutos, a zorra começa a desandar, para todos os lados. Rafaelson entra no lugar de um aplaudidíssimo tiago real e torna-se protagonista de cenas lamentáveis. As cenas lamentáveis que falo não são exatamente os gols que o referido perdeu, mas sim a raiva, o ódio que isso provocou na torcida. Pouco importa que o menino (ele tem apenas 19 anos) estava quase um semestre parado. Aliás, pouco, não, nada importa. A mesma torcida que tem uma paciência de jó para a inoperância de tiago real, para o quase Dagoberto, para as entregadas de amaral, não suporta 15 minutos de Rafaelson perdendo gols. Pra piorar, o Vitória sofre o segundo. Alguns séculos de aflições e a partida termina, sob vaias estrondosas, apesar do triunfo.

É direito do torcedor vaiar? Óbvio, claro, cristalino. Gastei exatamente os parágrafos iniciais falando disso. Porém, é no mínimo contraditório que esta mesma torcida silencie diante de tantas e tamanhas infâmias e se exaspere desta forma com um guri. Parece que não aprendemos. Outro dia, vigorava uma campanha para mandar o maldito do Euller embora, com urgência. Hoje, todos amam o rapaz desde sempre.

Antes que algum incauto venha dizer que estou querendo, com isso, garantir que Rafaelson será o futuro Euller, respondo logo: Não, claro que não. E, no embalo, aproveito para perguntar: nossas vaias servem apenas para os meninos da base, para os desvalidos? Será que não gastaremos nossas gargantas para recriminar os malditos dos andares superiores, sejam os jogadores de grife (em fim de carreira) ou mesmo os dirigentes que estão a nos enrolar nas questões substanciais, como as contratações e a democratização do Clube?

Bom, como disse, e repito, cada um faz o que entende ser certo. Assim, enquanto muitos acham que devem perseguir os guris da base, este rouco e cabeludo locutor continuará aqui bradando contra outras injúrias e em prol do direito do torcedor interferir na vida do Leão.

O cracaço Euller abre os braços para receber o menino Nickson no clube dos ex-renegados

O cracaço Euller abre os braços para receber o menino Nickson no clube dos ex-renegados

Por isso, encerro uma vez mais com o tradicional grito: DIRETAS, JÁ!!!

P.S Sem querer sem cabotino nem profeta do acontecido, informo que, no dia anterior, antes de mais uma exibição brilhante de Euller, larguei a seguinte ode ao referido. Confira comigo no replay, AQUI, Ó

COM QUANTOS QUILOS DE MEDO SE FAZ UMA TRADIÇÃO?

junho 28, 2016

Intervalo da peleja entre Vitória x Ponte Preta. Nem bem tenho tempo de gritar “cervejaaa” e um cidadão, postado com a porra de um radinho de pilha no degrau abaixo, indaga:  “quanto tempo a gente ainda vai aguentar Euller?”

Ato contínuo, devoto ao indigitado aquele mesmo olhar de lagoa seca com o qual ACM ameaçava os adversários ou mesmo correligionários que o contrariasse. Amedrontado, tal e qual o povo vivia na época do Cabeça Branca, o desinfeliz responde, gaguejando “Fo, fo, foi o cara aqui da rádia que, que, quem falou isso”.

Agora, prestem atenção e me digam se é graça uma porra dessa. Nos primeiros 45 minutos iniciais, exatamente no período em que o desgraçado disse que não aguentava mais o lateral-esquerdo, Euller fazia uma apresentação próxima de soberba. Marcou bem, que é seu ponto fraco, driblou, cruzou, driblou novamente, deu dinâmica ao jogo naquele setor, enfim, fez o diabo. Errou apenas um lance fortuito no ataque sem maiores consequências. O sacaninha ainda conseguiu melhorar na segunda etapa.

Porém, mesmo diante disso, o sujeito da arquibancada e da rádia repetiam como papagaios fuleiros a indagação pejorativa. É graça? Não, não é, contudo ainda havia gente pior. A cada jogada do garoto, eu passei a gritar a plenos pulmões, de sacanagem, de pirraça, mas também para dar um contraponto às almas penadas. “Euller, MOSTROOOOOO”. E toda vez que repetia a homilia, outro cidadão resmungava. “É bom não elogiar, pois daqui a pouco ele erra”.

PUTAQUEPARIU O AGOURO!!!

Enquanto isso, tiago surreal desfilava solenemente com sua habitual inoperância sem ser incomodado por nenhum torcedor. Aliás, minto. Toda hora que ele errava –e ele errava toda hora- este rouco e cabeludo locutor lhe endereçava o seguinte elogio. “tiago surreal, sinha DESGRAÇA”. Sim, minha comadre, vossência ouviu certo. Eu falei elogiava. Afinal, chamar aquela injúria de desgraça é um elogio. Aquilo é algo inominável. É um típico bom sujeito que agrada técnico por causa de uma falaciosa postura tática. Porém, na verdade, nunca chama a responsabilidade, não ataca, não dá um passe em profundidade, não chuta, não defende nem ofende ninguém. E nunca é ofendido. Afinal, não veio da base. E uma parte significativa da torcida só gasta a garganta para vaiar os meninos da base. Euller, por exemplo, tem apenas 21 aos, mas já foi mais amaldiçoado do que todas as bruxas na idade média.

Por falar em perseguição, outro clássico exemplo é o zagueiro Ramon, também com seus 21 anos recém-completados. Enquanto Amaral já entregou a rapadura, na verdade o acarajé, pois o sujeito parece uma baiana, com aquela sua bunda de nego sambador, umas 189 vezes e nunca foi vaiado compulsivamente, o menino Ramon tá praticamente proibido de tocar na bola sem receber as homenagens de parte da arquibancada. Sim, amigos de infortúnios, sei que o camisa 4 tá sentindo o peso do manto de jogar a sua primeira Série A, tá nervoso, tá vacilando etc e coisa e tals, mas tem levado a culpa até quando o erro é dos outros.

Nesta mesma peleja contra o time campineiro, por exemplo, Kanivisky, que fez uma partida razoavelmente digna, era quem estava completamente avoado na hora do gol e deu condições para o atacante (não soube fazer a linha do impedimento), porém adivinhem quem passou a ser vaiado logo após o gol?

Depois, quando ele for vendido para o futebol europeu ou para outro centro que lhe pague uns caraminguás, aparecerão as viúvas para dizer que num era bem isso, que era preciso ter paciência e o caralho aquático. A propósito, não custa lembrar que nossa campanha mais brilhante em um brasileirão, em 1993, ocorreu através da base. E foi a base também que nos deu a alegrias de títulos nacionais.

Amigos, amigos, vou repetir pela última vez. Para times da periferia, como é o nosso Leão, só existe uma saída. Apostar na base e tentar acertar com algum estrangeiro, como foi o caso de Escudero. Fora disso, é só madeira e despejar dinheiro no bolso de empresários de perebas do interior paulista.  É preciso romper com esta secular farsa.

Por falar em repetições e farsas, quando é que esta diretoria vai finalmente se pronunciar sobre o calendário para a democratização do Clube? Enquanto eles continuarem neste indecoroso silêncio, gritarei aqui ad infinitum: DIRETAS, JÁ!

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Toda vez que este guri vestiu o manto este ano, o Vitória marcou pontos. Pensem nisso também antes de vaiá-lo, rebain de sacristas. 

A CULPA NÃO É (SÓ) DO JUIZ

junho 27, 2016

Na clássica crônica intitulada “O Juiz Ladrão”, o insano Nelson Rodrigues presta reverência aos gatunos assopradores de apito de antanho. Com seu humor cáustico, o escritor afirma que o desaparecimento dos referidos “é um desfalque lírico, um desfalque dramático para os jogos modernos…” que ficaram sem “nem um único e escasso canalha, nem um único e escasso vigarista”.

Pois muito bem, digo, pois muito mal.

Caso o inolvidável cronista estivesse neste domingo no Barraquistão, ele mudaria de opinião. Ainda habemus juízes ladrões. Amigos de infortúnios,  em verdade vos digo: a atuação do mineiro Ricardo Marques Ribeiro na peleja entre Vitória 1 x 1 Ponte Preta foi de fazer corar o mais cínico dos canalhas. Talvez até Nelson sentisse um pouco de vergonha diante de tantos e tamanhos desmantelos.

Por falar em gatunos, nas priscas eras em que Acêmê mandava e desmandava no Judiciário baiano  (e não só nele, frise-se), corria nos meios forenses a seguinte prosopopeia: “Existem três tipos de Justiça. A boa, a ruim e a baiana”.

Pois muito bem. Mutatis Mutandi (recebam, larápios, um latinismo na torácica), a sarcástica sentença acima serve muito bem para a arbitragem de Pindorama. Repetindo: “Existem três tipos de árbitros e bandeirinhas. Os bons, os ruins e os brasileiros”.

PUTAQUEPARIU O FURTO QUALIFICADO!!!

Sim, porque uma coisa é o erro no jogo e na vida, do qual ninguém está imune. Outra coisa bem diferente foi aquele desembestado amor ao alheio que acometeu o cidadão (?) de preto na peleja de ontem.  E o pior de tudo é que o indigitado, não bastasse ser rato, era um rato pusilânime. Exemplo? Teve um momento, de um simples lateral, que ele marcou e voltou atrás. Mesmo estando colado no lance, preferiu levar em conta o aceno do bandeirinha que estava a 18 km da jogada. Porém, no gol de Dagoberto, ele marcou, disse que foi o bandeirinha, desdisse, ficou confuso e roubou novamente, depois de já ter anulado um gol legal de Kieza. Estes dois lances capitais ocorreram exatamente na frente do mesmo bandeirinha ladrão (desculpe a redundância), que fez de conta que nem era com ele. Os jogadores, corretamente, pressionaram – e eles quase voltaram atrás, mas devem ter se lembrado de que honestidade provoca úlcera (salve, Nelson Rodrigues).

É fato que existiram diversas outras patacoadas. Não as repetirei aqui pra não cansar o impoluto ouvinte e também porque não adianta chorar sobre o leite roubado.

O que ainda pode ser revertido e mudado não está exatamente nas quatros linhas. Não apenas nela. Afinal, como digo no título, a culpa não foi (só) do juiz. A (ir) responsabilidade maior é da diretoria.

Toda vez que o Vitória é vítima de erros grosseiros ou até de má-fé (como foi o caso de ontem) a diretoria, quando fala algo, prende-se apenas ao trivial. Não toma nenhuma atitude concreta. Inclusive, quem souber de alguma representação OFICIAL da diretoria contra equívocos e furtos de arbitragem ganha uma revista dos irmãos metralhas.

Por fim, para não ficar apenas nos lamentos e ranger de dentes, repito o que já disse no último texto. As coisas só vão mudar em campo quando existir uma transformação de postura da diretoria. E, para que isso ocorra, a atuação dos torcedores será fundamental. Aliás, justiça seja feita. A torcida Rubro-Negra já começou a mudar, tanto no cotidiano das arquibancadas, quanto na conscientização de que esta chibança não pode continuar ad infinitum. Não poderemos ficar (apenas) botando a culpa no juiz.

Afinal, mais do que condenar aqueles furtos, devemos entender que os principais culpados são os que estão na diretoria, nos sacaneando e tentando nos enrolar, seja na postergação das necessárias contratações, como também da fundamental democratização do VItória.

Então, vamos ao já tradicional grito de guerra: DIRETAS, JÁ!!!

Aviso aos incautos. Toda vez que encontrarem com este sacripanta, escondam a carteira

Aviso aos incautos. Caso vejam este sacripanta, escondam a carteira

INEXPLICÁVEL

junho 20, 2016

Logo após a peleja contra o São Paulo, no último dia 15, também conhecido como quarta-feira, os meninos do brioso Arena Rubro-Negra me convidaram para escrever naquela impoluta tribuna. Lisonjeado, mas ainda atônito pelo convite, pensei de modo adversativo, conforme sói ocorrer nos graves momentos da nação: mas, que porra é que vou dizer?

Então, para enganar os incautos, que adoram ser enganados, comecei a me raciocinar todo com o objetivo de apresentar um estudo importante sobre as desigualdades no futebol brasileiro. Já estava com todos os números na ponta da língua, digo do teclado, conforme convém aos cabeças de planilha que gostam de enrolar os torcedores que vivem na fé de serem sempre engabelados, quando esbarramos no valor do cachê.

Os donos do estabelecimento, seguindo a horrenda tradição mesquinha do empresariado de Pindorama, queriam pagar muito menos do que eu merecia (e olhe que eu mereço pouco). Assim, depois de tensas e intensas negociações chegamos ao consenso. Eu não deveria ganhar nada. Afinal, ninguém que trate deste elenco do Vitória merece receber porra nenhuma.

Tudo é muito lenhado. Uma falta de esculhambação dos 600 DEMÔNHOS. Algo totalmente inexplicável. Sim, não tem como elaborar qualquer teoria diante do desmantelo. No jogo contra o tricolor paulista, por exemplo, eu estava desenvolvendo a tese de que o elenco e as verbas deles são imensamente maiores do que as nossas. Portanto, o tropeço poderia ser explicado. Mas, aí, vem hoje, no sol do capeta e um modestíssimo time do sul, acostumado apenas a mastigar bola de neve, com um orçamento dez vezes inferior ao do Vitória, vem aqui, corre mais e broca.

É graça uma porra desta?

E pior. Uma vez mais, vi a torcida apenas reclamando do primeiro gol, que era defensável; da zaga que vacilou na segunda brocada da Chapecoense; de Alípio, que parece eternamente com aqueles meninos cheios de verme da pelada, que não consegue nem ficar em pé; de Leandro Domingues, que morreu para o futebol e esqueceram de lhe avisar; de Amaral, com sua bunda de nego sambador ou de baiana de acarajé, que parece estar sempre fazendo uma tigela de vatapá; de Mancini, que escala o time errado, enfim, vi os torcedores com a mente somente  nas quatro linhas. Não havia um único resmungo contra o principal (ir) responsável por isso tudo: raimundo viana.

PUTAQUEPARIU A FALTA DE FOCO!!!

O cara ganhou apenas um malamanhado campeonato baiano, mesmo assim perdendo a final para o fraco time das sardinhas, e a torcida não compreende que ele é o culpado principal pelo atual estágio de coisas? Não é possível. Além de não entender nada de futebol, o sujeito é um retrógrado da pior espécie, que está tentando escantear a democratização do nosso clube. Será que vamos continuar ignorando isso até quando?

Amigos de infortúnios, só existe uma saída para o nosso Rubro-Negro. Qual seja. A torcida do Vitória precisa, urgentemente, deixar de ser apenas coadjuvante para assumir o seu próprio destino, até porque os protagonistas, os atores principais, são canastrões da pior espécie.

DIRETAS JÁ!!!

Este tem que ser o grito de guerra cotidiano até o final do campeonato ou do mundo, o que dá no mesmo.

Amém? Vamos, todos nós, sair desta letargia, galera?

Crédito da foto: Reprodução/Facebook do Vitória

Mesmo após ter feito o gol, Marinho sabe que não há motivos para comemorar

A ESTÚPIDA LABUTA

junho 14, 2016

Embebido nas vastas emoções e pensamentos imperfeitos advindos de mais uma inolvidável Impedcopa, só agora, passadas as regulamentares 48 horas, consigo pegar o papel e a caneta para rabiscar algo sobre a peleja entre Vitória x Botafogo na infame cidade de Volta Redonda, lugarejo que perde em feiura até para a horripilante Candeias.

PUTAQUEPARIU O DESMANTELO!!!

E já que adentramos pelos descaminhos das assombrações, faz-se mister registrar que a maldição se repetiu uma vez mais no jogo entre estas duas equipes condenadas eternamente ao épico opróbrio, se é que o opróbrio pode ser épico. Pouco importa. O fato é que, em se tratando de desgraças, nada se compara a um Vitória x Botafogo, clássico que envolve dois times que sempre pisam, distraídos, nos gramados da vida e da morte com uma inquebrantável vocação para a infâmia – seja lá que porra isto signifique.

E, no último domingo, não foi diferente. Menos de cinco minutos de bola rolando (bola rolando no caso é um eufemismo) e Kieza, principal matador do Leão, já havia perdido um gol de cara. Na sequência, sem dar tempo nem para xingar o centroavante, o menino Flávio é atingido na cabeça e entra em convulsão. Minutos seculares de terrível suspense.

Exatamente por coisas assim que, já disse aqui e alhures, mas repito. Quando estas duas centenárias agremiações diplomadas em matéria de sofrer se enfrentam, as mais terríveis tragédias gregas transformam-se em meras e apenasmente adocicadas sessões da tarde. Afinal, a peleja entre o Rubro-negro baiano e o Alvinegro carioca está para muito além do bem e do bem, com diria Zé bigode. Os times já entram em campo com aquele tradicional gosto amargo de coturno de sargento no canto da boca.

Pois muito bem. Depois do infausto acontecimento envolvendo Flávio, era óbvio que a equipe poderia continuar com somente 10 em campo, cada um correria um pouco mais em honra do machucado e tava tudo certo. Porém, Mancini inventa de colocar Tiago Surreal, um sujeito que é mais improdutivo do que galinha ciscando em terreiro de festa junina.

Óbvio que, depois deste crime, o castigo viria a galope. A segunda etapa nem começa direito e o Botafogo faz 1 x 0, após um coice do atacante Sassá. Como desgraça pouca é bobagem, o técnico do Vitória comete seu segundo e inexplicável erro: tira o displicente Dagoberto, que já entra em campo cansado, e coloca o inominável Vander. E o pior. Como o Estádio da Cidadania é menor do que o campo aqui no Boqueirão, no Nordeste de Amaralina, o sujeito vem jogar (jogar é modo de falar, num reparem, não) exatamente ao lado deste rouco e exausto locutor.

Respiro, junto minhas últimas e parcas forças e grito. “Mancini, sinhá mizera, inverte aí. Bote Marinho para jogar aqui na esquerda, próximo ao alambrado, e a desgraça do número 17 para atuar do lado de lá”. Ao ouvir minhas orientações, um amigo de infortúnio retrucou. “Mas, Sêo Françuel, isso num vai resolver nada. Afinal, Vander num pratica o futebol nem deste lado nem do outro”. Então, larguei o doce. “Claro que vai. Ao menos, aquela injúria, também conhecida como pica tonta, ficará zanzando longe de mim”.

Foi a única coisa boa que Mancini fez no jogo. E, ainda, em um lance todo malamanhado, conseguimos o gol de empate já nos estertores da peleja.

Sim, minha comadre, é fato que perdemos dois pontos, pois empatar com este atual elenco do Alvinegro carioca é uma derrota, mas, com Vander jogando longe de mim, pelo menos as minhas 18 pontes de safenas pararam de incomodar tanto.

P.S Esta homilia vai dedicada à insana galera do Vitória 40º, que vive exilada no Rio de Janeiro.

 

Se Mancini num colocasse Vander para correr do outro lado do campo, bem longe de mim, este safenado e cabeludo locutor sofreria uma convulsão muito mais grave do que esta de Flávio.

PUTAQUEPARIU A IMPRUDÊNCIA

junho 6, 2016

Vocês conhecem aquela música extraordinária de Oscar da Penha intitulada Hora da Razão? Sim, minha comadre, aquela mesmo que diz assim: “sofrer também é merecimento, cada um tem seu momento….”

Pois então.  Neste inolvidável e inoxidável primeiro domingo de junho, cheguei à definitiva conclusão de que o torcedor do Vitória tem uma ligação ancestral com esta música de Batatinha. É isso. Só pode ser isso. O torcedor rubro-negro não consegue entender a vida sem sofrimento.

Como assim? Assim.

O Leão estava jogando algo minimamente parecido com futebol nos últimos três séculos,  brocando lindamente o Internacional, o líder invicto do campeonato, tudo pra todo mundo ser feliz, lindo, maravilhoso, como diria aquele antigo compositor baiano, e o cidadão, no intervalo da peleja, me inventa de pedir uma criatura em casamento.

Casamento, meu craque, a esta altura do campeonato, com a crise batendo na porta e na janela? Francamente.

PUTAQUEPARIU A IMPRUDÊNCIA

Menos mal que num foi aquela coisa bregamente americanizada de propor matrimônio em telão. Deuzulivre. Graças aos 600 bons DEMÔNHOS que continuam a nos guiar, o Barraquistão ainda é um estádio de verdade, sem estas aleivosias mudernosas. Assim, o pedido teve até seu charme, pois foi feito com locução fuleira e microfonia, parecendo aquelas cenas de circo mambembe do brioso sertão. Mesmo assim, casamento é aquela coisa, né? Inda mais nesta boca de tempo.

Mas derivo.

Porém, já que falei no referido, é impressionante a união indissolúvel de Marinho com a inconsequente ousadia. Tal e qual o rapaz que flertou com o abismo, pedindo a moça em casamento nestes tempos temerários, Marinho também não tem vergonha do absurdo. O moleque joga como um moleque, desconhece todas as formalidades e bons modos. Dribla o convencional e nos relembra que futebol pode ainda ter generosos toques de insana e descompromissada rebeldia. Uma festa para os olhos e todos os outros sentidos. Isto, claro, sem esquecer os 3 pontos, afinal, os combalidos rubro-negros têm o compromisso moral de continuar sendo idiotas da objetividade aritmética. Não podemos nos dar a tantos e tamanhos desfrutes.

Então, calculadora na mão. Eis a soma (e rima) perfeita: Marinho & Barraquistão, ninguém segura esta combustão. São 90 minutos de delírio coletivo & individual, porque o sacaninha é um delegado da disgrama. Não bastasse tudo, e tudo é tudo, não posso nem descrever (quem viu, viu? Quem num viu que se foda), ele deixou, literalmente, amarelada toda a zaga do melhor time de campeonato. E mais. Nos mostrou que, depois de tantas e tamanhas emoções que me faltam até adjetivos para descrevê-las, resta apenas escrevermos nas paredes da memória a frase piegas: sim, podemos sonhar.

Obrigado & amém.

P.S Depois, quando passar o efeito das emoções e das substâncias não recomendadas pela Carta Magna, falarei sobre o jogo em si, se é que existe isso depois de tanta inescrupulosa magia.

Marinho exibe seu talento em treino na Toca do Leão - Foto: Lúcio Távora l Ag. A TARDE

Nesta foto do jornal A Tarde Marinho nos ensina sobre as formas de amar. Pode Casar, disgrama!!!