O futebol pode ser acusado de tudo, de ópio do povo, alienador, entorpecente, o caralho aquático – menos de não ser algo contagiante. Isso não. Vejam, por exemplo, o caso deste intrépido e intimorato locutor.
Conforme é de conhecimento do Norte e Nordeste de Amaralina, sempre andei mais acelerado do que o Ben Jonhson dopado, escrevendo na base de 259 baites por segundos. No entanto, já tem mais de 10 dias que não digito uma só palavra sobre o ludopédio. Aliás, não foi à toa que o último textículo aqui nesta emissora trazia como título Sob o Signo da Boréstia. Assim estava na ocasião – e assim continuo, contagiado pelo malemolente ritmo do brioso Esporte Clube Vitória.
Então, para sair desta maresia e tentar dar uma animada, na última quarta-feira de cinza, possuído por uma ancestral ressaca, decidi fazer algo que contraria a minha religião: desapertei a tecla mute no aparelho de TV. E, em verdade vos confesso: não me arrependi. Pagou o ingresso ouvir a narração vibrante e vibrática de Tiago Mastroiani, os comentários abalizados de Darino Sena e, especialmente, as análises perfunctórias de Serapião.
Que beleza! Para quem perdeu a referida epopeia, relato alguns lances. A eles.
Um jogador do Atlético de Alagoinhas dá uma botinada no lateral Romário (sim, lateral, ala é a puta que o pariu!). O jogo segue e outro atleta do equipe Carcará desce o sarrafo em Mineiro. Esta última falta, registre-se, não tão violenta quanto a anterior. Porém, os três especialistas ficam intrigados porque o juiz, Arilson Gerasamba da Anunciação, aplicou cartão para o que fez a primeira falta – e não para o segundo…
Ok, ok. Ficou confuso, né? Mas foi o melhor que pude fazer. Quem viu a transmissão e a chibança na hora ficou mais desnorteado ainda, pois não houve repeteco da jogada anterior e eles falavam ao mesmo tempo, parecendo que estavam vendendo verduras na Feira de São Joaquim.
Porém, o que me chamou mesmo a atenção na transmissão foi a certeza, a segurança, a convicção, com quem Serapião falava, especialmente para elogiar o bandeirinha. “Rapaz com atitude, ativaço”, no dizer do comentarista.
Ativaço? Eu, hein, santa!
Pois muito bem. O tal ativaço da bandeira errou um impedimento de mais de oito metros, mas Serapião na hora largou a seguinte. “Bem interpretado e marcado”. Pouco tempo depois, no intervalo, provavelmente por ter levado o esporro de alguém na emissora, ele fez o mea culpa.
Enquanto isso, Darino era um poço de coerência. Se o Vitória ia para o ataque uma vez, ele dizia que o Leão estava encurralando o Carcará. No instante seguinte, bastava um erro do Rubro-Negro, que ele logo sentenciava: “O Vitória hoje está fazendo uma péssima partida”. E ficou assim alternando até o apito final.
PUTAQUEPARIU A VOLUBILIDADE!!!
Por sua vez, Tiago Mastroiani, ficava sempre querendo falar do sardinha de itinga. Ô doença. Se o zagueiro do Atlético dava uma braga, ele logo lembrava de um lance de Leo Fortunato num ba X VI de antanho. Teve uma hora que deu vontade de mandar cancelar os campeonatos dos últimos dez anos e entregar um título qualquer para a equipe dele só para ver se parava o choro.
Pois muito bem.
Se eu tivesse um tantinho assim de vergonha na cara, depois de tanta chibança, ficaria uns seis meses sem ver futebol na TV ou ir ao estádio. Contudo, descarado que sou, no próximo domingo estarei no Santuário orientando o Leão contra o poderoso Serrano. Talvez assim consigamos melhorar um pouco esta nossa campanha, que é a pior dos últimos 548 anos.
P.S Fiz questão de não corrigir o texto. Este Valerão/2012 não merece.