Intervalo da peleja entre Vitória x Ponte Preta. Nem bem tenho tempo de gritar “cervejaaa” e um cidadão, postado com a porra de um radinho de pilha no degrau abaixo, indaga: “quanto tempo a gente ainda vai aguentar Euller?”
Ato contínuo, devoto ao indigitado aquele mesmo olhar de lagoa seca com o qual ACM ameaçava os adversários ou mesmo correligionários que o contrariasse. Amedrontado, tal e qual o povo vivia na época do Cabeça Branca, o desinfeliz responde, gaguejando “Fo, fo, foi o cara aqui da rádia que, que, quem falou isso”.
Agora, prestem atenção e me digam se é graça uma porra dessa. Nos primeiros 45 minutos iniciais, exatamente no período em que o desgraçado disse que não aguentava mais o lateral-esquerdo, Euller fazia uma apresentação próxima de soberba. Marcou bem, que é seu ponto fraco, driblou, cruzou, driblou novamente, deu dinâmica ao jogo naquele setor, enfim, fez o diabo. Errou apenas um lance fortuito no ataque sem maiores consequências. O sacaninha ainda conseguiu melhorar na segunda etapa.
Porém, mesmo diante disso, o sujeito da arquibancada e da rádia repetiam como papagaios fuleiros a indagação pejorativa. É graça? Não, não é, contudo ainda havia gente pior. A cada jogada do garoto, eu passei a gritar a plenos pulmões, de sacanagem, de pirraça, mas também para dar um contraponto às almas penadas. “Euller, MOSTROOOOOO”. E toda vez que repetia a homilia, outro cidadão resmungava. “É bom não elogiar, pois daqui a pouco ele erra”.
PUTAQUEPARIU O AGOURO!!!
Enquanto isso, tiago surreal desfilava solenemente com sua habitual inoperância sem ser incomodado por nenhum torcedor. Aliás, minto. Toda hora que ele errava –e ele errava toda hora- este rouco e cabeludo locutor lhe endereçava o seguinte elogio. “tiago surreal, sinha DESGRAÇA”. Sim, minha comadre, vossência ouviu certo. Eu falei elogiava. Afinal, chamar aquela injúria de desgraça é um elogio. Aquilo é algo inominável. É um típico bom sujeito que agrada técnico por causa de uma falaciosa postura tática. Porém, na verdade, nunca chama a responsabilidade, não ataca, não dá um passe em profundidade, não chuta, não defende nem ofende ninguém. E nunca é ofendido. Afinal, não veio da base. E uma parte significativa da torcida só gasta a garganta para vaiar os meninos da base. Euller, por exemplo, tem apenas 21 aos, mas já foi mais amaldiçoado do que todas as bruxas na idade média.
Por falar em perseguição, outro clássico exemplo é o zagueiro Ramon, também com seus 21 anos recém-completados. Enquanto Amaral já entregou a rapadura, na verdade o acarajé, pois o sujeito parece uma baiana, com aquela sua bunda de nego sambador, umas 189 vezes e nunca foi vaiado compulsivamente, o menino Ramon tá praticamente proibido de tocar na bola sem receber as homenagens de parte da arquibancada. Sim, amigos de infortúnios, sei que o camisa 4 tá sentindo o peso do manto de jogar a sua primeira Série A, tá nervoso, tá vacilando etc e coisa e tals, mas tem levado a culpa até quando o erro é dos outros.
Nesta mesma peleja contra o time campineiro, por exemplo, Kanivisky, que fez uma partida razoavelmente digna, era quem estava completamente avoado na hora do gol e deu condições para o atacante (não soube fazer a linha do impedimento), porém adivinhem quem passou a ser vaiado logo após o gol?
Depois, quando ele for vendido para o futebol europeu ou para outro centro que lhe pague uns caraminguás, aparecerão as viúvas para dizer que num era bem isso, que era preciso ter paciência e o caralho aquático. A propósito, não custa lembrar que nossa campanha mais brilhante em um brasileirão, em 1993, ocorreu através da base. E foi a base também que nos deu a alegrias de títulos nacionais.
Amigos, amigos, vou repetir pela última vez. Para times da periferia, como é o nosso Leão, só existe uma saída. Apostar na base e tentar acertar com algum estrangeiro, como foi o caso de Escudero. Fora disso, é só madeira e despejar dinheiro no bolso de empresários de perebas do interior paulista. É preciso romper com esta secular farsa.
Por falar em repetições e farsas, quando é que esta diretoria vai finalmente se pronunciar sobre o calendário para a democratização do Clube? Enquanto eles continuarem neste indecoroso silêncio, gritarei aqui ad infinitum: DIRETAS, JÁ!
Toda vez que este guri vestiu o manto este ano, o Vitória marcou pontos. Pensem nisso também antes de vaiá-lo, rebain de sacristas.