No dia 22 de fevereiro de 2007, fiz algo totalmente contrário à minha religião: Abandonei o brioso Rubro-Negro no Parque Sócio-Ambiental e fui curtir as delícias de outro parque – o da Chapada Diamantina. Resultado. Empatamos em 1 x 1 com a poderosa equipe do Baraúnas e perdemos a vaga na segunda fase da Copa do Brasil. Por conta disso, voltei para casa antes de terminar as férias com uma dor excruciante (recebam, fariseus). Coisa de botar no chinelo o remorso ancestral do Rei Davi. (Aos incréus desinformados, explico: Davi desejava a mulher de Urias. E, para atingir tão sórdido objetivo, mandou à guerra o pobre coitado para comer com a referida. Depois, ficou com um sentimento de culpa cristã dos seiscentos).
Pois bem. Relembro este trágico episódio agora porque na noite de ontem, no jogo contra o Atlético Mineiro, vivi um sofrimento parecido. Uma angústia do cão. Não desejei a mulher de Urias, é vero, mas fiz algo muito pior: Troquei um jogo do Vitória pelas AGRURAS DA CAPITAL PAULISTA.
“Mas, Sêo Françuel, ao contrário da partida contra a equipe Potiguar, o Leão ontem fez sua melhor exibição este ano. E meteu 3 x 0 no Galo jogando futebol de gente grande. Pra que este drama todo, homem de Deus?”, interrompe-me a religiosa e cartesiana ouvinte.
Minha amiga, você diz isso porque não foi obrigada a acompanhar a peleja via Justin TV. Que penitência da porra! Para que vocês tenham idéia de quão disgramada foi a transmissão, eu cheguei a sentir saudade dos radialistas baianos. Ô, grória.
O Vitória jogando o fino da bola e o locutor da Globo Minas dizendo uma heresia atrás da outra. “O Galo é time de massa. Em 1995 perdia de 2 x 0 contra este mesmo Vitória e virou para 3 x 2. No ano passado também vencemos aí por 1 x 0”, relinchava o secretário do capeta.
Mesmo com a madeira gemendo no lombo o desinfeliz não sossegava: “Se fizermos um gol apenas, mudaremos a história do jogo”. Não bastasse isso, a transmissão caía toda hora e só ficava a voz do herege ressoando nesta paulicéia sem alma: “O Atlético agora começa a ter o domínio do jogo”.
Que aflição do carai.
Teve um momento em que o Vitória pressionava, fazia uma blitz sensacional no ataque até que Ramon tropeça no zagueiro adversário na grande área do time das alterosas. O canalhocrata, vendo que não havia mais jeito, começa a apelar: “Ele matou o contra-ataque mortal do Galo. É caso para, no mínimo, cartão amarelo”.
Putaquepariu a mulher do padre!
Foi por estas e outras que quando o juiz apitou o final do jogo eu tomei a decisão de nunca viajar mais em dia de jogo do Vitória, nem mesmo para ver os peitos de Scarlett Johansson (mentira!!). E me lembrei imediatamente das seguintes palavras do poeta alemão Heine:
“…Eu tenho uma mentalidade pacífica. Meus desejos são: uma cabana modesta, telhado de palha, uma boa cama, boa comida, leite e manteiga; em frente à janela, flores; em frente à porta, algumas belas árvores.
E, se o bom Deus quiser me fazer completamente feliz, me permitirá a alegria de ver o locutor da Globo Minas nela pendurado. De coração comovido eu haverei, antes de sua morte, de perdoar todas as iniqüidades que em vida me infligiu, inclusive aquela narração de ontem – sim, temos de perdoar nossos inimigos, jamais antes, porém, de eles serem enforcados“.
Palavras da Salvação.
UMBORA BITÓRIA CARAJO!