Archive for maio \30\+00:00 2009

Carpegiani subiu no telhado

maio 30, 2009

Crise financeira internacional, gripe suína, teste nuclear da Coréia do Norte, desmantelos no Senado Federal e outras mumunhas do mesmo naipe ficaram reduzidas às suas verdadeiras insignificâncias depois que o jornalista André Rizek, do Sportv,  largou nesta sexta-feira santa a seguinte e única notícia realmente importante para os destinos da humanidade. Ouçam no genuflexório, hereges: “Vitória procura novo treinador: O clube baiano se cansou de Paulo César Carpegiani. Silas, do Avaí, já recebeu um convite”.

Ô, grória. Deus seja louvado!

Amigos, em verdade vos confesso: por dever de ofício, acompanho diariamente todos os noticiários há pelo menos 25 anos e, em todo este período, jamais li um informe tão alvissareiro. Repetindo.

Ô, grória. Deus seja louvado!

Alguns pessimistas, incréus, ateus, podem até achar (não sem razão) que é apenas mais um chute de jornalista, esta raça de gente ruim que não tem o mínimo pudor em falar exatamente o oposto do que acabou de anunciar. Não duvido – até porque nunca comi reggae destas injúrias.

No entanto, só o fato disto vir à tona através de um sacanildo radicado no Sudeste de Pindorama é sinal de que o menino Jesus finalmente resolveu atender às minhas preces. E digo isso não porque ache que os jornalistas de lá têm mais credibilidade do que os de cá. Nécaras. Dou uns pelos outros e não quero troco. O que me anima nesta chuvosa noite de sexta-cheira é que o assunto, como dizem os entendidos, entrou na pauta.

É claro que 97,38% dos torcedores Rubro-Negros já haviam percebido o esparro. Prova disso foram as diversas e constantes passeatas realizadas pela politizada população do Norte e Nordeste de Amaralina. Contudo, apesar de todo o barulho, a questão ainda não estava na ordem do dia. Na última terça-feira, por exemplo, uns jornalistas gaúchos e paulistas amigos meus (sim, pessoal, eu sou um cara tolerante e tenho amigos com estes defeitos) quase que me chamavam de louco porque falei que já havia passado da hora de Experimentalgiani partir a milhão.

Mas, derivo.

E retorno afirmando a seguinte e otimista prosopopéia: mesmo que o referido não caia (batam na madeira 86 vezes), ainda assim, já terá valido à pena. Afinal, não é possível que um homem, por mais pirracento que seja, continue a fazer invencionices, mesmo quando toda uma nação clama e exige  que ele siga pelo caminho da retidão, justiça e simplicidade.

E é por tudo isso que este rouco e cansado locutor, que andava meio sorumbático, recorreu agora ao velho e bom cepacol para bradar e gritar as palavras da salvação que emocionam até os inventores mais fajutos:

UMBORA TRI-TÓ-RIA, CARAJO!

Ode ao masoquismo

maio 26, 2009

Os incréus aí do Sul da Alemanha e de outras céticas localidades que fazem fronteira com Santa Catarina podem até duvidar, mas na verdade, na verdade, vos informo: já houve, sim, um tempo em que a crônica esportiva baiana não era composta apenas de radialistas analfabetos e escrotos (desculpe-me por tais redundâncias).

E afirmo isso não por nostalgia barata, pois não sou palhaço das perdidas ilusões. O fato é que, realmente, existiam pessoas que entendiam de bola para além do sentido pejorativo e corrupto da palavra. (Futebol nas quatro linhas, manemolente, bem jogado e bem analisado.) E o principal expoente dessa escola, que não deixou sucessores, era Armaaando Oliveeeeira. (E digo isso aqui não porque eu tenha sido um dos organizadores do LIVRO com as crônicas do referido. Isto nécaras – até porque esta impoluta emissora não aceita jabaculês.)

Mas, derivo.

O fato é que, no último sábado à noite, ao assistir àquela INDECÊNCIA no Mineirão, lembrei-me da seguinte indagação feita pelo velho e bom Oliveira logo após a conquista do título nacional de 88 pelo itinga futebol clube: “Como um povo tão vibrátil, com tamanho ritmo nos pés e na cintura, bom de samba, melhor ainda de capoeira, pôde permanecer tanto tempo no subúrbio do futebol brasileiro, morrendo sempre na praia?”.

E ele mesmo respondia: “Tão humilhante condição provavelmente se devia à nossa postura colonizada, valorização desmedida dos estímulos impostos pelo Sul Maravilha, carência de confiança na prata da casa”.

Pois muito bem.

Já se passaram mais de duas décadas que tais palavras da salvação foram proferidas e os diretores do Vitória não aprenderam. (Os da outra equipe, aquela de Itinga, também não, mas tenho não quero conta com eles. E, ademais, é melhor não mexer com os mortos.)

Mas, eu dizia que se passaram duas décadas – e nada. Nem mesmo os exemplos históricos parecem servir. E a história, esta menina traquina, nos prova que os melhores desempenhos do Rubro-Negro aconteceram exatamente quando se privilegiou os santos da casa e os técnicos que não agiam sob o comando desta visão colonizada.

Aos dados. Em 93, com os Meninos da Toca e um treinador neófito, Fito, chegamos à gloriosa 2ª colocação do Brasileirão. Só não ficamos com um título porque na ocasião era humanamente impossível vencer o Palmeiras. Já em 2004, com o desconhecido Agnaldo Liz no comando, deixamos escapar a vaga na final da Copa do Brasil apenas por conta do mão de quiabo do Juninho, que deus o tenha. Cinco anos antes, já havíamos encantado a Bahia e uma banda de Sergipe com o time dirigido pelo novato (como técnico) Toninho Cerezo, que nos levou às semifinais do campeonato brasileiro.

Pois bem. Mesmo com todos estes exemplos, a diretoria inventa de demitir Ricardo Silva, que estava botano pra vê tauba lascá ni banda, e contrata Paulo César Experimentalgiani, que dormia em berço esplêndido deus sabe onde.

E o velho complexo de vira-latas retornou com força total. O EX-BRIOSO agora já entra em campo contra as agremiações do Sul Maravilha completamente derrotado, pois o referido acha que o Vitória é time pequeno e tem que somente se defender. Resultado. Nos últimos quatro confrontos contra as (mal) ditas equipes grandes do ludopédio de Pindorama, o Leão se transformou num gatinho de pensão, levando 10 gols e marcando apenas 1.

É por tudo isso que a Bahia, que levou a alma nacional nas batalhas do 2 de Julho, está novamente de armas em punho lutando por sua nova independência. E a população do Norte e Nordeste de Amaralina também entrou na jogada. E, exatamente neste momento, realiza uma tremenda passeata, gritando em uníssono as seguintes palavras que salvam e libertam:

CHEGA DE ODE AO MASOQUISMO!

É HORA DE MANDAR OS MALTIDOS EMBORA!

DIGNIDADE JÁ!

maio 24, 2009

Nem bem o sacana e careca Héber Roberto Lopes soprou o apito final no jogo de ontem à noite no Mineirão e Jonathan, lateral do Cruzeiro, ocupou logo os microfones do PFC para largar a seguinte: “Infelizmente, só conseguimos fazer 2 X 0 no Vitória”.

É GRAÇA UMA PORRA DESSA?

Amigos ouvintes, em verdade vos confesso: Nas condições normais de temperatura e pressão, eu xingaria toda a árvore genealógica do referido atleta, começando por sua digníssima genitora. Afinal, acho inadmissível qualquer tipo de deboche contra meu time de coração. Ontem, porém, ouvi isso calado. E pior. Dei razão ao disgramado.

A verdade que salva e liberta é esta mesmo: Infelizmente, o Cruzeiro só meteu dois no Rubro-Negro, pois se os deuses da bola fossem menos injustos era para o Leão ter perdido de sete ou oito. E Carpegiani, a esta hora, já teria pegado o seu boné  e o óculos ray-ban e partido a milhão.

Mas, Sêo Françuel, que mal há em perder de 2 x 0 para a poderosa equipe celesta em Minas Gerais? Pergunta-me a velhinha de Taubaté. E eu, mesmo injuriado, mas ainda com alguma paciência, respondo-lhe: nenhum. Este resultado é perfeitamente normal, desde que haja um mínimo de disputa, de vontade, de gana. O que não dá para aceitar é minha equipe entrar em campo completamente entregue.

Um time de primeira divisão, tri-campeão estadual, representante do Norte e Nordeste na Copa Sulamericana,  não pode nem deve jogar de forma tão covarde. E nem venham me falar sobre escalação, dizendo que hoje Paulo César Experimentalgiani inventou pouco. A questão não é esta. O problema é de postura e de armação tática. De nada adianta colocar dois laterais e proibí-los de ir ao ataque. É inútil povoar o meio-de-campo e deixar um atordoado centroavante se batendo sozinho com a zaga adversária. Não dá mais para aguentar Ramon caminhando em campo nem por cinco minutos. Repito: é inútil. E vergonhoso. 

É óbvio que ninguém aqui é maluco ao ponto de querer que o Vitória parta pra cima do Cruzeiro de forma kamikaze. Nécaras. Sabemos que prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Porém, um time que quer ser respeitado não pode entrar em campo já derrotado – nem mesmo quando o adversário é o atual melhor time do Brasil. Se é pra perder, que percamos com decência.

Pra mim, pior do que levar uma goleada histórica é ter que ouvir um atleta do time adversário reclamando que venceu de pouco.  Que porra é esta?

Não é à toa que os moradores daqui do Nordeste de Amaralina, Vale das Pedrinhas, Santa Cruz e Adjacências já saíram em passeata gritando em uníssono:

DIGNIDADE JA!

Sudesb informa: Mudança na torcida do Vitória. Saem desleixo e apatia e entram vibração e confiança

maio 22, 2009

Esta brusca inclinação no eixo do universo é consequência exatamente do que vocês estão pensando: a radical mudança de postura da torcida do Esporte Clube Vitória nos últimos tempos. Crianças, em verdade vos digo: É impossível manter a harmonia do cosmos com tamanha transformação. Não há planeta que consiga permanecer na sua devida órbita com tão grande rebuliço.

Antes, porém, que me acusem de hiperbólico, apresento logo fatos históricos para que vocês tenham idéia do quão nojenta era a nação Rubro-Negra.

Seguinte é este.

Em 1997, por exemplo, os jogadores que conquistaram o glorioso campeonato baiano daquele ano da graça receberam como presente nada menos do que uma sonora vaia ao término da última partida que nos deu o título.

É graça uma porra dessa? Não é não. E, para provar que não sou homem de espalhar culhudas, assim que o teor de sangue na canjebrina diminuir, caçarei no gugle um linque e o colocarei aqui para ilustrar o que digo. Adianto-lhes apenas o seguinte. O assombro foi tamanho na ocasião que Bebeto Gama, uma das principais estrelas do elenco, não conseguiu nem chorar.

Pois muito bem.

Pouco mais de uma década depois, esta mesma e implacável torcida trilha o caminho oposto. E, na última quarta-feira – logo após a desclassificação do time na Copa do Brasil diante de uma equipe da segunda divisão -, aplaude de pé os jogadores, antes, durante e depois do fiasco.

É graça uma porra desta? Não é não. Por isso, furto unseoutros e afirmo: nunca na história deste país se viu tamanha mutação em tão pouco tempo.

E como foi que se deu tal fenômeno? Pergunta-me a incrédula ouvinte.

E eu, com a luxuosa ajuda do menino Chicó e de Ariano Suassuna, respondo: “Não sei. Só sei que foi assim. Aqueles que apenas viviam pelos bares, butecos e ladeiras desta vetusta província resmungando, lamentando e fazendo pose de intelectual revoltado, decidiram aderir completamente à deliciosa alienação de vibrar e torcer de forma insana”.

Amém.

P.S Ah, sim. Não posso terminar minha prosopopéia sem recorrer a algum chavão marxista de budega, mesmo que isso contrarie os fatos e a lógica temporal. Então, arrisco-me a dizer que tudo começou a mudar quando a equipe decidiu abandonar o aristocrata bairro da Barra e adotar a periférica e charmosa Canabrava como sua moradia. É isso. Todo time tem que ir aonde o povo está, soluça agora Milton Nascimento, que deus o tenha.

CARPEGIANI, NÃO, MAMÃE

maio 21, 2009

Putaquepariu a mulher do padre!

Já são exatamente 2 horas e 43 minutos da madruga… e nada. Só reticências e estes palavrões acima.

Mesmo depois de me raciocinar todo – buscar ajuda no Aurélio, no Caldas Aulete, na Bíblia, no Alcorão, na Canjebrina e em diversos livros de semiótica, hermenêutica, antropologia e psicologia – ainda assim, não consegui até agora elaborar uma definição para o comportamento de Carpegiani.

Após toda esta prosopopéia, só consigo repetir a pergunta do cientista, ator e cantor Fábio Júnior: “O que é que está se passando com aquela cabeça?”

Não sei.

Pela pureza de minha alma (Aliás, da minha, não. Com os crimes e pecados que cometo diariamente, não posso me colocar como exemplo de nada). Então, recomeçando. Pela pureza da alma de meu filho, que é um bom rapaz, vos confesso: ainda não sei de qual mal padece nosso técnico – se ele sofre da nefasta auto-sabotagem (deixa o hífen, revisor sacana) ou da síndrome de gênio. 

Bom. Talvez, como me sopra o filósofo que trabalha na portaria de meu condomínio, RAY-BAN MAN seja um treinador Mega Sena ao Contrário. Como assim? O porteiro explica. “Sêo Françuel, enquanto o jogo lotérico acumula prêmios e esperanças, o referido acumula os dois transtornos mentais”.

Palavras da salvação.

Só mesmo esta teoria para explicar como uma pessoa, que até conhece de futebol, consegue fazer tantas, tamanhas, despropositadas e desnecessárias experiências, para não escrever presepadas. Repetindo.

Putaquepariu a mulher do padre!

Na concepção do professor, pardalice pouca é bobagem.
Não bastasse já ter enojado meu baba no Rio de Janeiro, inventando Apodi de centroavante, Bida de lateral-direito, Jackson de esquerdo, entre outras barbaridades, ele ontem conseguiu se superar. Nem citarei aqui as improvisações. Apenas destaco que, tal e qual um diretor de filme ordinário de terror, o referido tentou ressuscitar alguns zumbis que já acreditávamos devidamente enterrados. Do nada, ele lançou o morto-vivo André Luiz (que deus o tenha) como lateral-esquerdo. Repetindo:

Putaquepariu a mulher do padre!

É por estas e outras, muitas outras, que a população do Norte e Nordeste de Amaralina saiu agora em passeata com as seguintes palavras de ordem:

ERA POSSÍVEL, SIM, MAS ELE NÃO QUIS 
PUTAQUEPARIU A MULHER DO PADRE!
CARPEGIANI, NÃO, MAMÃE

ERA POSSÍVEL, SIM, MAS ELE NÃO QUIS 
PUTAQUEPARIU A MULHER DO PADRE!
CARPEGIANI, NÃO, MAMÃE

ERA POSSÍVEL, SIM, MAS ELE NÃO QUIS 
PUTAQUEPARIU A MULHER DO PADRE!
CARPEGIANI, NÃO, MAMÃE

Repitam estes mantras 258 vezes ou até que alguém da direção tome as devidas providências.

 

P.S Para que não digam que só falo de desmantelo, faço o seguinte registro: pagou o ingresso ver a torcida apoiando os jogadores o tempo todo e vice-versa. Bela sintonia que serve como um antídoto contra os vermes da imprensa baiana. .

Se puede? Si, és possible

maio 20, 2009

Caso eu me guiasse apenas pelo cartesianismo de budega que viceja nas análises pebolísticas hodiernas (vide PVC, tubos e conexões), recorreria agora às frias estatísticas para demonstrar por x + y, noves fora nada, que o brioso RUBRO-NEGRO vai massacrar o vasco neste jogo de volta da Copa do Brasil. Afinal, nas sete partidas realizadas no Solo Sagrado, o Leão ganhou as sete e meteu exatos 22 gols, o que dá uma média de 3,1428571428571428571.

Mas, nunca fui idiota da objetividade para achar que futebol vive de dízima periódica. Nécaras. Sei que os números não mentem, mas, quando torturados, confessam.

Por isso, irmãos, minha crença na brocança pra cima do ex-timaço da colina e atual dama-de-companhia daqueloutro que habita o subsolo dos porões do ludopédio de Pindorama firma-se em outros valores. E um destes dogmas, que sustentam a fé deste religioso locutor, é exatamente a HONRA, o amor à camisa por parte dos Santos Meninos da Toca. Aliás, Wallace, o guardião da zaga, o mostro da zona do agrião, já deu a IDÉIA (deixa o acento, revisor fidumasanta!). E, na prelação, RAY-BAN MAN também falou em nome deste SENTIMENTO que parecia alijado do futebol-negócio, mas que retornará nesta noite inolvidável (recebam, incréus, um inolvidável pelos mamilos).

E foi exatamente por ter este mesmo entendimento que o menino Paulo Galo, estudioso do balipódio em 18 idiomas, largou as seguintes palavras da salvação: “Nesta quarta-feira, no Monumental de Canabrava, o Esporte Clube Vitória escreverá uma das mais lindas páginas do futebol brasileiro – dessas que ninguém será capaz de esquecer por décadas”.

Maktub.

Outra prova de que o universo conspira a favor do Leão vem dos céus. Ao abrir as torneiras, São Pedro beneficia o Vitória duplamente. Primeiro, afasta os pés-de-geladeira do Santuário Ecológico (Vão para o cinema, rebain de miséra). Segundo, proporciona a ressurreição de Nadson, que alguns apressados chamaram de Finadson.

Como assim?

Ora, sem sol, não tem festa na Bahia. Sem festa, ele larga a farra e a maldita canjebrina e dedica-se às suas maiores artes: o futebol e a predestinação. Vai retornar brocando.

Não bastasse tudo isso, este visionário locutor que vos sopra profecias ainda comprou 15 litros de cepacol e 8 pares de alpercatas de couro cru na Barroquinha. Estas para rumar na cabeça de algum sacana que pare para respirar por 15 segundos que seja. Já aqueles líquidos sagrados servirão para ajudar nos tradicionais gritos que emocionam até os mais céticos:

UMBORA TRI-TÓ-RIA, CARAJO!

Carta aberta aos torcedores do vasco

maio 19, 2009

                                           

                                                                       Por Rodrigo Falcão*

Eu poderia discorrer aqui, mais uma vez, sobre a histórica freguesia do vasco em confrontos com o VITÓRIA. Poderia ampliar a discussão falando que a questão do vasco contra o VITÓRIA possivelmente nem tenha tanto a ver com o VITÓRIA em si, mas com o impacto que o vermelho-e-preto causa nas retinas cruzmaltinas, visto que o vasco é freguês histórico também do flamengo.

(Aqui vale um parêntese: André – colega de trabalho – que o diga, pois me segredou há instantes que, em sua infância, torcia para o vasco, mas desistiu pois não aguentava mais sofrer).

Esta questão de freguesia vai além do que se pode raciocinar. Ultrapassa em muito a lógica. Explicar isso não se resume a “defesa, meio-campo, ataque, artilheiro e esquema tático”.

É algo que acontece. E assim acontece sempre que o vasco enfrenta o VITÓRIA aqui. Testemunha disso são os torcedores baianos do time carioca, que pela idade que têm nunca presenciaram um triunfo preto-e-branco em cima do Leão da Barra, no Barradão.

Por essa histórica freguesia e inqualificável estirpe de segunda divisão é que afirmo: eu, também, como baiano, fiquei envergonhado com aquele desastre no Rio de Janeiro.

Contudo, anuncio: contra o vasco, no Barradão, eu sou VITÓRIA e dou 4 (quatro) gols.

Sei que os olhinhos vascaínos estão brilhando, esperando ver pela primeira vez um triunfo do vasco pessoalmente, mas ouçam a voz da sabedoria tricolor: não acreditem!!!

Pobres torcedores baianos do vasco. Como se não bastasse só poder ver o time jogar pela televisão, quando vêm aqui só fazem levar ferro. Ainda bem (pra eles) que esse ano tem um joguinho contra o bahia.

Em tempo: deixo meus “parabéns” pela maior glória vascaína em 2009, ter vencido uma partida do VITÓRIA.
Comemorem muito vascaínos, mas deixem um pouco de fôlego para o choro depois do sapeca de quarta-feira no Barradão..

BORA TRI-TÓÓÓÓRIA!!!!

* Rodrigo Falcão é Rubro-Negro e profeta nas horas vagas.

Valeu, São Pedro

maio 18, 2009

Na penúltima vez que esteve em Soterópolis, o menino Waldick Soriano, entre um uísque e outro, com sua voz tonitruante, largou a seguinte: “Sempre que vou fazer show numa cidade do interior pergunto logo onde fica a igreja”. A platéia, formada por jovens,  apaixonadas e libertárias senhôooras, fez aquele uhhuuhh, que só se ouve quando o atacante de nosso time perde um gol de cara.

Porém, antes que começassem as vaias pela jogada de perna-de-pau, o autor da belíssima Torturas de Amor completou: “Pergunto onde fica a Igreja para ir exatamente na direção contrária, já que nestes lugarejos o brega fica sempre do outro lado”.

Touché.

Mutatis mutandi (recebam, sacanas, um latinismo pelo esterno), aplico estas palavras da salvação waldicksoriana em relação à imprensa baiana. Os jornais e rádios da província são minha bússola. Se eles apontam para o Sul, tomo logo o caminho do Norte, pois sei que é o certo. E neste domingo não foi diferente.

Desde a última quarta-feira, quando aconteceu aquele terrível acidente no Rio de Janeiro, os urubus fazem a festa, tentando reduzir o brioso Leão ao tamanho de um maruim. Na verdade, eles fizeram muito pior. Quiseram transformar o jogo mais importante da rodada em um duelo de derrotados, só por causa dos revezes do meio de semana. 

É óbvio que apostei no inverso, pois sabia que, uma vez mais, eles iam errar feio. E não havia como ser diferente. Afinal, os tricampeões da Bahia e Pernambuco fazem, há tempos, o maior clássico do Norte e Nordeste. Além disso, de um lado estava o líder da competição mais disputada dos 18 continentes, o Brasileirão, contra o atual campeão da Copa do Brasil.

Com estas credenciais, só podia dar no que deu: um jogaço pra quem tem nervos de aço, repleto de emoções até o apito final do fidumasanta de Alagoas que tentou enojar meu baba, invertendo falta e deixando os zagueiros do Sport descerem a madeira sem dó, piedade ou cartão amarelo.

Mas, tudo bem. Vamos deixar o que é ruim de lado e louvar o que bem merece. E o que deve ser destacado é que em epopéias desta espécie os guerreiros locais mostram seu valor, conforme demonstraram os meninos Victor Martins (sim, Martins, ele merece este sobrenome), Uelinton, Robson, Leandro Domingues e, principalmente Wallace. Como já disse no texto anterior, neste 2009 os Santos da Casa vão fazer milagres assombrosos. 

E já que entramos nesta seara, é claro que nestas batalhas épicas o sobrenatural não pode faltar. E São Pedro se fez presente, mandando uma chuva providencial para tornar a peleja ainda mais emocionante, além de espantar os maus espíritos.

Aliás, aos pés-de-geladeira que não foram hoje ao Barradão, um conselho: Na próxima quarta-feira contra o Vasco fiquem em casa. E, se quiserem sair, sugiro um cinema. O novo cine Glauber Rocha, lá na Praça Castro Alves, por exemplo, está uma beleza. Oferece poltronas confortáveis e ingresso pela metade do preço neste dia. Assim, vocês poderão resmungar contra o diretor, o ator, o caralho, bem longe de mim.

E lá, injúrias, vocês estarão protegidos da chuva que, se Deus e São Pedro quiserem, e eles querem, vão cair torrencialmente no Santuário Ecológico. Bom filme.

Antes do The End, porém, ouçam o grito que emociona até o mais xibungo do cinéfilos: 

UMBORA TRI-TÓ-RIA, CARAJO!

P.S. Jorginho, ouça também um bom conselho: silencie. Suas declarações antes do jogo contra o Sport foram vergonhosas. Pare com isso. Ninguém agüenta mais.

Por que não te calas, Jorginho?

maio 15, 2009

O Carpegiani está fazendo um belo trabalho. Está dando gosto de ver esse time jogar”.
O autor desta frase elogiosa, proferida no último domingo, é o mesmo que ontem expôs o referido técnico publicamente, afirmando que iria cobrar explicações por causa da bisonha atuação do Vitória contra o Vasco. Amigos, em verdade vos confesso: Há muito tempo eu não vejo uma mudança tão abrupta de avaliação.

Antes, porém, que algum apressado venha dizer que estou querendo cercear a liberdade de expressão de Jorginho Sampaio, informo logo que defendo a tese de que é facultado a qualquer um o direito de rever suas idéias. Aliás, mais. É até salutar. Só não altera suas opiniões quem não as têm.

No entanto, é preciso um pouco de parcimônia nas transformações dos conceitos, senão pode soar como oportunismo, especialmente se a pessoa em questão não aquieta com a língua um só instante. Neste caso, a probabilidade de falar e fazer bobagens é enorme. Sim, fazer, pois palavra também é ação, notadamente as ditas por um gestor de um grande clube de futebol.

E por falar em futebol, qualquer pessoa com o conhecimento mediano do que ocorre nas quatro linhas sabe muito bem que o time ainda não se encontrou desde que Carpegiani assumiu o comando. Noves fora a apresentação contra o Atlético Mineiro no Barradão, inexiste esta história de que “está dando gosto de ver esse time jogar”. Não está. Os resultados podem até ser positivos, mas tal afirmação é completamente falsa. Como também cheira a falsidade, ou pior, deslealdade, jogar agora o treinador na cova dos leões por causa do resultado de quarta-feira. Se era para fazer cobrança, que se fizesse logo no início, pois Carpegiani, desde que aqui chegou, não faz outra coisa a não ser aplicar uma política laboratorial de transformar jogadores e equipe em cobaia de suas teorias. É preciso, portanto, ter hombridade nas derrotas – e não ficar jogando apenas para a torcida com declarações vazias. (Carpegiani errou, mas, ao menos, assumiu a parte da RESPONSABILIDADE que lhe cabia neste improdutivo latifúndio). 

E já que entramos nesta seara, faz-se mister registrar que o tal dirigente axezeiro, desde que começou a perder poder dentro do clube, tem se especializado em dar declarações inúteis e despropositadas. Ele opina sobre tudo. Desde a epistemologia dos peidos dos bodes nas barrancas do São Francisco até sobre a melhor forma de guiar motocicleta em terra de barro. Putaquepariu a mulher do padre! Praticamente todos os dias ele está nas rádios dando entrevistas e recebendo o afago de escrotos radialistas baianos (desculpe-me a redundância).

É óbvio que não vou cansar ninguém aqui listando todo palavrório e os disparates dito por ele nestes últimos tempos. Mas, para não dizer que não falei das flores e dos despautérios, citarei uma ou duas coisas recentes que simbolizam bem tal postura despropositada. 

Seguinte.

Na antevéspera do jogo contra o Atlético Paranaense, ele viajou para acertar, na verdade mais anunciar do que acertar, o malfadado contrato com a Champs. Pois bem. Em seguida,  acontece O VEXAME DA DEMENTE HISTÓRIA DO MALDITO MEIÃO, aquela pataquada, e ele vai às rádios dizer que foi um “erro aceitável”. Não foi. Pode parecer pouca coisa, mas o desleixo em relação ao meião é reflexo da gestão e vice-versa. É algo bastante simbólico.

Outra prova de total desleixo foi a contratação do lateral-esquerdo Nill. É óbvio que qualquer time está sujeito a erros e acertos nas contratações. É do jogo. Porém, é inadmissível que uma equipe do porte do Vitória seja desleixada ao ponto de trazer para o clube um atleta que o próprio dirigente confessou nunca ter visto jogar. Que política de contratação é esta?

Some-se a tudo isso uma verdadeira obsessão com as coisas do finado. Em vez de ficar pensando grande, estudando nossos futuros adversários na Primeira Divisão, ou até mesmo fechando parcerias com um time como o Sport, perde-se tempo e energia contratando tudo e todos que pertenceram àquela agremiação que habita o subsolo dos porões do futebol brasileiro. Agora, eu pergunto: fora o campeonato baiano, que porra eu quero com o timeco de itinga? Nada. Mas, não é isso que pensa Jorginho. E tome-lhe trazer bondes e mais bondes de todas as espécies, desde jogador sem condições físicas, doentes, como o caso de Paulo César Spirito até o cúmulo de contratar uma cozinheira de lá. A quem interessa isso pelo amor de Deus?  

Por falar no Pai Celestial, nos últimos tempos, tenho esquecido propositadamente de que sou um quase ateu e repito incansavelmente a seguinte oração antes de dormir: “Senhor Deus, meu bom amiguinho, cale a boca deste tal de Jorginho”.

Silêncio da Salvação.

P.S Não conheço Alexi Portela nem tenho procuração para defende-lo, mas acho salutar, quase admirável, sua postura serena, sem espalhafato. É incrível como um mesmo time consegue ser gerido por personalidades tão díspares.

Reminiscências e contradições

maio 13, 2009

A Terra

Geografia é destino. Eis um axioma inapelável do qual nenhum lugarejo pode fugir. E não seria o meu que, desta lei da natureza, iria ter isenção. E qual é o destino de Irecê, torrão natal deste sertânico locutor? Ora, padecer as dores e as delícias de irreconciliáveis paradoxos.

Pra começar, está encravado entre o semi-árido e o piemonte da Chapada Diamantina. Ao tempo em que usufrui das exuberantes belezas desta, sofre com as agruras daquele. Tem um espetacular lençol freático, mas sua água de beber é (ou era) salobra. A propósito, Irecê, que na linguagem indígena significa “sobre as águas”, por conta das longas estiagens recebeu o apelido de ireSeca. Mesmo detendo o título de Capital do Feijão, a imensa maioria do povo não tem o que comer. E em época de safra boa, poucos lugares no interior do país conseguem conviver com tanta fartura e indigência concomitantemente. No campeonato das desigualdades sociais, Irecê é o Brasil levado às últimas consequências.

Como bem diz um amigo meu, com sua filosofia de budega, “o futebol é o reflexo da vida e vice-versa”. Palavras da salvação. E é exatamente na seara pebolística que as contradições de minha cidade (na verdade, de minha rua) chegavam ao paroxismo.

Seguinte é este.

Exatamente no fundo de minha casa tinha o melhor campo de bola do mundo, muito mais lindo que o Maracanã. Dizem que o estádio carioca é o maior do mundo, mas em verdade vos digo: não chega nem no chinelo daquele de minha rua.

No entanto, mesmo estando a dois passos do paraíso, eu vivia num inferno. Com seu carrancismo dos seiscentos, meu inflexível pai não permitia que seus filhos se dessem ao desfrute de correr atrás de bola. “Isto é coisa de malandra”, decretava, assim mesmo no feminino. Os que ousavam desafiar tal ordem conheciam no próprio espinhaço os poderes de plantas como urtiga e cansanção.

Mas, nasci para pecar.

O Homem

Na minha infância querida que os anos não trazem mais, não conhecia Freud, mas já intuía que só nos tornamos homens quando matamos nossos pais e suas mais arraigadas convicções. Então, nem bem entrei na adolescência e decidi fugir de casa, brigando com meu genitor, rumo a esta bela e besta província da Bahia. E constatei, uma vez mais, que geografia é destino. Ao abrir a janela do 8º andar do apartamento de meu irmão no edifício Maria de Nazaré, na gloriosa Rua da Poeira, vi novamente o campo de minha rua, que agora atendia pelo nome de Fonte Nova.

Desta vez, não existia meu pai pra me proibir de entrar no campo, porém existia um inimigo muito mais poderoso: (a falta d)o Vil Metal. Então, ficava ali pelas brechas dos portões vendo os guerreiros Rubro-Negros jogando com uma gana incrível, mas sempre perdendo no final. Tudo culpa do juiz, do governador, do prefeito, do TRE, do diabo. Afinal, meu time sempre jogava melhor, principalmente nos 15, 20 minutos finais quando abriam-se os portões e eu entrava no meio do xaréu para orientar a equipe.

Senhor juiz, não pare agora, deixe o apito final para depois. Não posso terminar este capítulo sem contar como me tornei Rubro-Negro. Seguinte: quando ainda era menino pequeno, e lá se vão muitos séculos, meu irmão queria me transformar em botafoguense, time pelo qual eu nutria uma certa simpatia – até porque a referida agremiação só vivia perdendo. E, por ancestral formação comunista, sempre gostei de ficar do lado dos deserdados. Já um tio, muito gente boa, que gostava de música e outras mumunhas, tentava me transformar em flamenguista. Porém, como sempre fui patriota e regionalista ao extremo, costumava vibrar era com a gloriosa Sociedade Esportiva de Irecê (SEI). Nas tardes de domingo, sempre saltava o muro do Campão, Estádio Municipal Joviniano Dourado, para ver os espetáculos promovidos pela agremiação treinada pelo gênio Cambuizinho, o homem do esquema tático da tesoura e do elevador Lacerda.

Acontece que quando desembarquei em Soterópolis não pude trazer a SEI na bagagem. E, na escolha do time, guiei-me pela minha formação contraditória-marxista. Qual seja. Fiquei do lado do time mais fraco, que trazia o triunfo no nome, mas que naquela época, início da década de 80, não ganhava nada.

A Luta

E assim foi feito. E decidi, então, entrar em campo, ou melhor, nas arquibancadas, para mudar esta cruel e paradoxal situação. (Minto. Os primeiros jogos na Velha Fonte eu assistia na Geral – e mesmo assim porque ia andando para escola e aplicava o dinheiro do transporte em minha mais nova e incurável paixão). Porém, nem mesmo minhas orientações no Estádio surtiam efeito. O time continuava apanhando mais do que mulher de malandro. Mesmo com as constantes derrotas, sofria, mas não abandonava as trincheiras. E seguia torcendo, caminhando e cantando os sábios ensinamentos do gênio Batatinha. “Sofrer também é merecimento. Cada um tem seu momento”.

E meu primeiro e inesquecível momento veio em 1985. Juntamente com os guerreiros Demilson, Dema, Chagas, Fernando e Celso Roberto; Heider, Ivan, Lulinha, Jésum e, especialmente, Bigu e o nigeriano Ricky chegamos ao ápice da glória: conquistamos o campeonato baiano daquele ano.

A partir de então os inimigos, assim como as forças governamentais em Canudos, passaram a ser cada vez mais fortes e sanguinários. Mas, continuamos pelejando com honra e honestidade. A propósito, o Vitória é o único grande time do Brasil que chegou ao fundo do poço do futebol nacional, a Terceirona, e voltou ao seu devido lugar sem o inescrupuloso auxílio dos bastidores. Como recompensa, somos hoje o líder do mais disputado campeonato do mundo, o Brasileirão, tendo o melhor ataque, a melhor defesa, o melhor meio de campo e o melhor churrasquinho de gato.

E é por tudo isso que, mais uma vez, cedo às contradições. Apesar de ser visceralmente contra as efemérides, aqui estou neste 13 de Maio para louvar o Brioso Esporte Clube Vitória nos seus 110 anos de dramáticas e inolvidáveis pelejas.

P.S.1 Esta homilia vai para Euclides da Cunha e todos os torcedores do Vitória, que no campo da luta sempre foram os melhores.

P.S. 2 Honrando sua tradição de time paradoxal, o Vitória comandado (comandado?) por Pardalgiani fez aniversário e me deu de presente uma humilhante goleada de 4 x 0 para um timeco de segunda divisão.