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O evangelho do apocalipse segundo Pica-Pau

outubro 28, 2013

Quem gosta de rock não tem o direito de falar mal da música de seu ninguém.

Esta sábia boutade acima é sempre repetida por uma amiga (fã de rock) quando seus comparsas começam a fazer carinha de nojo para outros tipos de música, especialmente para os ritmos desta província lambuzada de dendê e rebolation, tion, tion. E olhe que a referida criatura até teria autoridade para fazer biquinhos, pois é apreciadora de Leonard Cohen, Lou Reed (que Andy Warhol o tenha) e de umas fases de David Bowie.

Porém, os adeptos da música zuadenta, em vez de escutarem este bom conselho da moça, se acham os ungidos. E não ficam quietos. E querem dar pitacos em tudo. Ouçam o desplante.

“Você vai ao Rio de Janeiro só para ver um jogo de futebol?”, indagaram-me, com ar de quase desprezo, como se eles não fossem useiros e vezeiros em fazer diversas viagens à referida urbe para aplaudir astros velhacos que se tornaram caricaturas de si mesmo.

Homi, quá; sinhô, me deixe!

Como meu prato de comer sugesta quebrou faz tempo, não dei ouvidos à maldade alheia e desci a pirambeira para acompanhar a inolvidável e já histórica labuta entre Vitória x Fluminense.

Aliás, nem sei mesmo porque diabos meti os roqueiros nesta prosopopeia. Na verdade, o que queria dizer para vocês, amigos de infortúnios, era que hoje, mais do que nunca, acordei com uma inveja disgramada de Nelson Rodrigues. Afinal, nada melhor do que estar morto neste momento, sem ter a obrigação de relatar a epopeia ocorrida na tarde desse domingo no muderno Maracanã – até porque nem mesmo se sacasse do coldre todas as hipérboles melodramáticas do ilustre e finado tricolor conseguiria ser (in)fiel às devastadoras emoções da peleja.

PUTAQUEPARIU A TRANSCENDÊNCIA!!!

A verdade é que, com sua afeição às metáforas grandiloquentes, o menino Nelson provavelmente diria que tudo começou 40 minutos antes do nada e seguiria tranquilamente por este caminho de devaneios. Porém, cartesiano, vou pra cima do fato igual a um carrapato. E informo que o início da chibança teve hora precisa. O ponteiro do relógio marcava exatamente 18h13 quando o assoprador de apito, ladrão e gaúcho (desculpem-me as redundâncias) resolveu expulsar o zagueiro Kadivisky do Vitória só porque ele rasgou a canela de Diguinho. Uma injustiça. Afinal, deveria existir uma lei garantindo que quem desce a madeira num sujeito de nome ridículo como Diguinho está, a priori, absolvido, perdoado. Porém, o desinfeliz de preto contrariou esta cláusula pétrea da Carta Magna.

Mas, derivo.

O fato é que, a partir de então, o que era para ser apenas uma partida de vida ou morte se transformou num rebuceteio dos 600 DEMÔNHOS.

No princípio era o verbo, depois veio um chutão providencial do zagueiro, que os românticos chamariam de lançamento, a bola desviou na cabeça de pica amassada de Dinei e sobrou para Marquinhos. O GÊNIO FRANZINO apareceu em diagonal tal e qual um raio da silibrina (seja lá que porra isto signifique) e brocou.

Antes que eu comesse a maçã do pecado e tentasse subornar o fiscal de pista para que ele providenciasse o desligamento de todos os refletores, Ayrton, o lateral direito do Vitória (ala é a senhora sua mãe), traiu a pátria: 1 x 1. Como desgraça pouca é bobagem, Ney Franco (esta história de que passei a noite dando beijos em sua boca é apenas boato das serpentes) coloca em campo o satânico PICA-PAU.

Antes de prosseguir, parênteses. (Assim é fácil, menino Nelson. Falar de Pelé adolescente é uma beleza. Basta dizer que o negão andava em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Depois, é só completar, sem deixar a criança cair no chão, afirmando que a bola ia aos seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha. Ato contínuo, o Edson Arantes ia lá e brocava. Queria ver você largar estas prosopopeias sobre o instável Pica-Pau).

Para quem não conhece nosso herói, repito. O sujeito é cheio de pernas, de braços e com cabelos completamente malamanhados. Tem nome de príncipe, William Henrique, e atuação de personagem de desenho animado. É, não custa repetir, um homem-sintese, que funde a nobreza com o mass media. Talvez por conta desta mistura nunca tenha escutado o que é compromisso tático. Traduzindo de forma mais gentil: é um pica tonta.

Assim, com sua entrada, o que era ruim, piorou. O time, que já estava com um jogador a menos, perdeu mais ainda poder de marcação, virou um bando. E o fraco Fluminense virou o jogo.

No entanto, por um desses fenômenos que nem todo o estoque de mentiras e devaneios de Nelson Rodrigues conseguiria explicar, em menos de três minutos o Rubro-Negro fez dois gols. Um com o lateral Juan, após chute de Marquinhos e outro, com ele, o homem, o mito, o pentelho, o príncipe William Pica Pau Henrique, primeiro e único.

A partir de então, não me cobre mais nenhum relato, pois apenas vi uma mulher vestida de sol e um dragão que tinha sete cabeças e dez pontas, e nas suas cabeças sete diademas.

Sei que houve no céu uma grande batalha: O arcanjo Miguel, os seus anjos o o Todo-Poderoso PICA-PAI pelejavam contra o Dragão, e o Dragão com os seus DEMÔMNHOS pelejavam contra eles – e, ao contrário do que garantiu Nelson Rodrigues, ficou provado para todo o sempre que existe, sim, no futebol, vitória improvisada, espetacularmente improvisada.

Palavras da salvação. Amém.

 

P.S Esta homilia vai para Dorival Caymmi, João Gilberto, seus conterrâneos da Leões do Vale, os Vianei Bezerra, Pai e Filho e Dora, rainha do frevo e do Maracativisky, Tiago Campelo, Jai Teixeira e Iza Silva, o insano Otto Bruno, o conselheiro Antônio Rocha e os outros 10 mil Rubro-Negros que invadiram o Maraca neste domingo.

É hora de fazer diferente

outubro 22, 2013

A culta e pacata população do Norte e Nordeste de Amaralina sabe que os números não mentem, mas, quando torturados, confessam.

Então, de prima, sem deixar a criança quicar, recebam uma análise abalizada nos mamilos.

Seguinte. Desde o ano da graça de 2006, quando o campeonato de pontos corridos passou a ter o formato atual, com 20 clubes, o Vitória participou de três edições, sem contarmos esta que está em andamento, é óbvio.

Na estreia, em 2008, o time comandado por Vagner Mancini oscilou bastante. Em meados de julho, depois de seis jogos invictos, habitávamos o G-4 – e a Libertadores estava na ordem do dia. Depois de novos abalos, chegamos à 30ª rodada exatamente com os mesmos 44 pontos que temos atualmente. Porém, na ocasião estávamos na 10ª posição, distantes 9 pontos do São Paulo, que até então era o 4 º, mas que se sagrou campeão. Nós permanecemos em 10º, terminando a competição com 52 pontos.

No ano seguinte, em 2009, novamente tínhamos 44 pontos na 30ª rodada. Na ocasião, estávamos a 5 pontos do G-4. E mais. Tínhamos apenas 4 pontos de desvantagem para o Flamengo, que era o 5º e acabou levantando a taça. Nós ficamos sem querosene e terminamos a competição em 13º, com 48 pontos, apenas três acima do rebaixado Coritiba.

O ano da (des) graça de 2010 foi atípico. Como não tínhamos elenco, voltamos nossas energias para a Copa do Brasil e deixamos o Brasileirão em segundo plano. Assim, na 30ª rodada estávamos destoando dos dois anos anteriores, com 10 pontos a menos, 34, na 15ª posição. NO final, aliás, é melhor nem comentar aquilo…

Bom, mas o que estes números demonstram? Que estes 44 pontos atuais na 30ª rodada estão dentro de nossa média histórica nos pontos corridos com 20 times, excetuando-se, repito, 2010 porque priorizamos a Copa do Brasil.

Então, diante da frieza destes números, o conformado leitor pode argumentar que novamente nos está reservado o insosso meio da tabela. Porém, ele esquece a tal tortura numérica.

Vamos a ela.

Em 2008, nos 11 jogos iniciais do returno, o Vitória marcou apenas 12 pontos. Já em 2009, cravou 19. Desta vez, estamos com 21 e somos detentores da terceira melhor campanha do 2º turno. E mais. Se pensarmos nas 10 últimas rodadas, o retrospecto é ainda melhor. Estamos em primeiro, junto com o Goiás, perdendo apenas no saldo de gols, com uma excelente média de 66,67% de aproveitamento. (Estes últimos dados referentes a 2013, podem ser checados aqui http://www.mat.ufmg.br/futebol/dados/classif2oTurno_serieA.html e aqui, ó http://www.mat.ufmg.br/futebol/dados/classif10_serieA.html ).

Traduzindo.

Apesar de, em termos meramente numéricos, estarmos em uma situação desfavorável em relação a 2008, quando, a esta altura do campeonato, estávamos a apenas 5 pontos do G-4, agora, pela primeira vez, estamos chegando na reta final de forma ascendente.

Portanto, chegou a hora de torturamos os números e trilharmos um caminho diferente.

P.S A participação da torcida na construção deste novo momento será fundamental. Exatamente por isso, este rouco e humilde locutor comprou 18 litros de cepacol e uma passagem para o Rio de Janeiro para orientar in loco o Brioso nesta arrancada rumo ao impossível.  

Sob o signo do (des) acerto. O destino mandou a fatura

outubro 21, 2013

Desde que assumiu a casamata Rubro-Negra, o técnico Ney Franco decidiu fazer algumas apostas um tanto quanto arriscadas, desafiando a história e  o destino, esta entidade intangível e fantasmagórica.

Logo de cara, Chancelou a vinda de Juan, com quem havia trabalhado no São Paulo, bancou a titularidade da dupla de ataque formada por Marquinhos/Dinei e, depois, por circunstâncias do destino (olha ele aí novamente), foi obrigado a usar Luiz Gustavo, um garoto de sua confiança, nas mais variadas posições. Além disso, apostou em Pica-Pau, jogador que estava escanteado no clube. Aliás, esta última cartada foi a mais surpreendente e arriscada.

Porém, de um modo ou de outro, com variações aqui e acolá, o técnico foi bem sucedido nesta luta contra as evidências históricas. Logo na primeira partida contra o Galo (o jogo contra o Flamengo não conta porque ele não tinha feito qualquer trabalho tático-técnico), o time começou a jogar, pelo menos, com mais garra. E suas apostas começaram a dar bons frutos. Nesta partida inicial, Marquinhos mandou a criança para o barbante depois da perseverança de Dinei, que acreditou num lance praticamente perdido.

A partir de então, o time embalou. Conseguiu um importante empate contra o Internacional lá no Rio Grande do Sul e, na volta, conquistou a primeira vitória sob o comando do referido, na virada contra o Náutico, exatamente com dois gols do centroavante desacreditado por (quase) todos.

Na partida seguinte, contra o Vasco, no Rio de Janeiro, novamente um pupilo seu, Marquinhos, decidiu a parada, com um golaço de fora da área. Depois de um empate truncado contra o Grêmio, ele lançou mão de Pica-Pau, o desembestado, para desequilibrar a zorra lá no Paraná, na já antológica goleada de 5 x 3 em cima do Atlético, com participação decisiva do sacana de cabelo e futebol malamanhados. O mesmo Pica-Pau foi novamente decisivo no importante triunfo diante do Goiás, marcando nas últimas voltas do ponteiro.

O primeiro tropeço de Ney Franco foi fruto, digamos, da sede de vingança. Por mais que ele tenha negado, o fato de ter colocado Juan para bater o pênalti contra o São Paulo (tendo Dinei, Ayrton e Cajá em campo) denunciou esta desejo incontido. É fato que, na ocasião, o sacripanta de preto uma mão. Ou melhor, fez vistas grossas para a mão, o soco do jogador tricolor, no rosto de Wilson. Mas, isso são águas passadas que não movem redemoinhos.

(A partida contra as sardinhas foi algo atípico, que nem merece comentário. Consultei o Instituto Nacional de Meteorologia e confirmei que a última chuva de 140 mm num dia de outubro havia ocorrido nove anos antes. E nova tragédia daquele porte – tropeço diante de time fraco com uma chuva dos 600 – só daqui a mais nove anos. Então, bola pra frente).

A reabilitação veio diante do Coritiba, novamente com dois gols de seus escolhidos, Marquinhos e Dinei. No jogo crucial contra o Botafogo, uma vez mais, Pica-Pau guardou o dele.

Pois muito bem. É com este histórico positivo de apostas que Ney Franco vai para o jogo contra a Portuguesa. E talvez tenha sido por acreditar nas suas apostas que o Vitória perdeu (sim, aquele empate foi uma derrota) o jogo mais fácil deste Felicianão.

O erro já começou na formação do banco. Lá existiam apenas 8 jogadores. Maxi e Michel não foram relacionados. (Não vou especular nada para não ajudar a criar clima ruim, mas que foi estranho, foi). Além disso, Escudero, o motor da equipe, seja com Ney Franco ou Caio Júnior (que deus o tenha), acabou indo para o banco.

Então, quando o jogo estava praticamente dominado, Ney Franco dobrou a aposta. Assim que  Marcelo se contundiu, invés de recompor a meiúca, já que o time estava ganhando o jogo ali, ele manda Pica-Pau para o campo ainda no primeiro tempo. Até então, o indigitado só tinha entrado no segundo tempo, especialmente nos finais da partida.

Enfim, mesmo não acreditando  em determinismo (apesar de ter a certeza de que ele existe), eis que o disgramado do DESTINO resolveu cobrar tudo com juros e correções. E foi assim que todas  todas as apostas de ney Franco acabaram sendo as principais exatamente os responsáveis pelo melancólico empate: Pica-Pau, Marquinhos e Dinei perderam gols absolutamente cretinos. E Luiz Gustavo, outro menino de ouro do baralho de Ney, entregou a rapadura de modo constrangedor.

Em resumo, foi isso. Ontem o DESTINO, este moço traquino, apresentou a fatura por tantas, tão bem sucedidas e arriscadas apostas.

Porém, há um alento. Se continuarmos nesta média nas 8 rodadas restantes, mesmo com o destino aprontado aqui e ali, o risco valerá à pena, afinal a Libertadores não é pequena.

PICA-PAU ADIA O FIM DO MUNDO

outubro 19, 2013

“Feijoada que não posso comer, meto o dedo pra azedar”.

Esta ancestral traquinagem praticada pelos desafortunados rebeldes parece agora ser o axioma que guia os isentos e impolutos comentaristas esportivos da paulicéia.

O problema é que, como toda a apropriação indébita, esta tentativa dos defensores do império bandeirante ludopédico de estragar a comilança alheia beira o patético.

Inicialmente, ao perceber que os seus queridos times estavam fora do banquete, eles começaram a criticar a má qualidade da comida. “Nunca houve uma competição tão ruim, com nível tão baixo”, pregavam, fingindo olvidar que, há séculos, predomina nas quatro linhas de Pindorama um cardápio absolutamente insosso.

Não satisfeitos, lançaram a praga fatal em forma de profecia que se pretende auto-realizável (deixa o hífen, revisor sacana). “Acabou o rango, galera. Quem comeu, comeu”.

Talqualmente os sujeitos indeterminados da canção de Assis Valente, anunciaram a garantiram que o campeonato e o mundo (o que dá no mesmo) iam se acabar com 500 rodadas de antecedência. E diziam isso com a convicção dos estúpidos, escanteando até mesmo o inexorável Sobrenatural de Almeida.

Porém, na noite desta quinta-feira, apesar do trânsito cada vez mais esculhambado de Salvador, cerca de 20 mil pessoas não deram ouvidos a esta conversa mole dos apocalípticos e subiram a pirambeira rumo ao Parque Sócio Ambiental, Santuário Ecológico, Manoel Barradas, o Monumental Barraquistão, para acompanhar a peleja entre o Botafogo de Clarence Seedorf e o Vitória de Pica-Pau.

Menos de cinco minutos de bola rolando, e o estreante rubro-negro Marcelo, com a inexperiência de seus 19 anos, parece querer confirmar a profecia dos abutres. Joga contra o patrimônio e deixa Lodeiro de cara para o crime. Porém, o uruguaio vacila e impede que a nação amaldiçoe toda a árvore genealógica do camisa 5 do Leão. Depois disso, o guri se redime e toma conta da zona do agrião como se ali já habitasse há milênios. Dribla, passa, chuta com uma categoria de orgulhar o velho Bigu, que vestiu o mesmo manto na década de 80.

Quem não se redime nunca, porém, são os homens de preto. O sacana mineiro e ladrão (desculpe-me as redundâncias) queria enojar o baba de qualquer jeito, talvez mancomunado com nefastos profetas do fim da história.

Sim, amigos de infortúnios, anular um gol com o jogador mais de meio metro em posição legal, tudo bem, mas não chamar a Secretaria de Segurança Pública para prender o lateral Edílson que agrediu Juan na área foi um pouco demais. Contudo, o desinfeliz do apito não achava nada muito. Além de ignorar o pênalti mais claro da história do pebolismo latinoamericano, ele ainda presenteia o número 6 do Vitória com um cartão amarelo. (Para um sacana como Alício, não se pode ter pena: só borracha porque cadeia relaxa).

Mas, derivo.

O fato é que o Vitória, apesar de realizar sua melhor partida neste Felicianão, estava numa situação triste e amargurada, pois praticamente se despedia do sonho libertador. E quando a casa já começava a feder a homem, num alvoroço dos 600 DEMÔNHOS, o técnico botou em campo Pica-Pau, que inventou a batucada pra deixarmos de padecer. Salve o prazer. Salve o prazer de podermos testemunhar, novamente, um verdadeiro milagre da natureza e da ciência.

Seguinte é este. Caso prevalecesse a lógica cartesiana, nosso herói, no máximo, seria coadjuvante no referido desenho animado. O sujeito é cheio de pernas, de mãos, de cabelos, completamente malamanhado. Apesar de tudo isso, ou talvez por causa disso, coube ao indigitado o papel de calar os profetas e adiar o fim do mundo.

Seguinte foi este.

Depois de uma jogada trieletrizante, envolvendo o veterano Juan e o imberbe Euler (o bisneto do vento), ali na FAIXA ETÁRIA  de 32 minutos e 19 segundos, Pica-Pau mostrou novamente que é possível continuarmos brincando de beliscar (ou seria pinicar?) o impossível. Entrou na área alvinegra como um raio da silibrina (seja lá que porra isto signifique) e mandou a pelota cumprir seu destino.

Por falar em destino, pode parecer determinismo (e é), mas os últimos acontecimentos levam a crer que está reservado ao desengonçado atacante um papel crucial nesta história. Noves fora as caricaturas, ele é um personagem complexo. Um homem-síntese. Ao mesmo tempo que tem a cara do Pica-Pau, possui nome de príncipe (William Henrique 1º e Único), mistura fidalguia com a plebe, alta cultura com mass midia e gols, muitos gols. Desde que estreou, há seis partidas, apesar de entrar sempre no finalzinho, sempre desequilibra, em todos os sentidos. E já marcou três gols decisivos, adiando o fim do mundo e das esperanças Rubro-negras, o que dá no mesmo.

Então, é isso: América, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos sambar.

Petardo nos mamilos dos “cabeço pequeno”

outubro 13, 2013

Enquanto curo a tradicional ressaca com uns cafunés da moça do shortinho gerasamba, reflitam sobre as palavras da salvação do gênio franzino

Até quando?

outubro 7, 2013

POR ANDERSON NUNES

  

“Na próxima quarta-feira todos os caminhos levam a Arena 51”.

Este certamente será o slogan utilizado pela impoluta imprensa baiana. Porém, para a parte Rubro-Negra da cidade, esta frase nos leva também a uma pequena reflexão. Os mais otimistas, com certeza, lembrarão do inolvidável 07/04/2013, quando o Leão inaugurou o recinto com todas as honras. Também não sai de nossa memória a pancada de 2 x 1 e, é óbvio, o épico 7 x 3.

Coincidência ou não, após estas exibições de gala do Vitória começamos a assistir uma tentativa de destruição do símbolo máximo do pavilhão Leonino através dos meios de comunicação como sbt, globo,correio e outros menos votados.

Agora, justamente na véspera do próximo clássico (se é que ainda podemos chamar de clássico), somos novamente atacados. No domingo, dia 29/09/2013, foi o reincidente correio*, que, uma vez mais, tenta tripudiar sobre nosos símbolo.

Na ocasião, indignado, enviei para a diretoria do Clube o seguinte email:

 

Prezados Diretores,

 

 

Vários e vários anos, nós torcedores do ECV, somos obrigados a assistir, presenciar todo tipo de chacota e humilhações com o nosso símbolo maior. Assistimos através da imprensa os senhores pronunciarem que tomariam providências sérias caso fôssemos ultrajados novamente. Pois bem hoje no dia 29/09/2013 pela milionésima vez, mesmo com o nosso time ganhando o jogo em 3 x 0 no primeiro tempo (horário que envio este email), tive o desgosto de presenciar mais uma palhaçada do correio*.

 

Sou apenas um simples sócio torcedor, e com minhas obrigações eleitorais em dias e gostaria de saber dos senhores que comandam nosso amado clube, até quando vamos continuar suportando a isto?????

 

Ps:. Em cópia alguns amigos que também são sócios torcedores e com suas obrigações eleitorais em dias e que desejam uma resposta definitiva em relação a esta palhaçada”.

 

 

 

Como já esperado, não obtive resposta alguma sobre o episódio. E, para minha surpresa maior e desgosto, vi novamente um outro ataque, agora por aqueles que tentam a todo momento seduzir a torcida Rubro-Negra a abandonar a sua casa e ir morar de aluguel. Ainda querem nos dar como prêmio, o melhor tratamento do mundo que é a humilhação e falta de respeito com o torcedor.

 

Depois de tamanho descalabro, o torcedor presente ao “estádio” protestou, demonstrando que nossa Casa é o Barradão.

Pronto, a partir deste momento, pensei: “Agora a direção vai acordar e atender o clamor da nação”.

 

Triste ilusão.

 

Vejo, mais uma vez, eles encontrarem um outro bode expiatório, colocando a culpa na empresa terceirizada da tal Arena 51. É óbvio que o conscietne torcedor do Vitória não está comendo nada disso.

 

Portanto, encerro este texto direcionado à diretoria com a mesma pergunta que Marco Túlio Cícero fez no seu célebre discurso no senado: “Até quando, ó Catilina, abusarás de nossa paciência?”.

Por fim, digo que se os mandatários continuarem em silêncio, nossa resposta poderá ser desconcertantemente estrondosa.

VAMOS BELISCAR O IMPOSSÍVEL

outubro 4, 2013

 

Nas últimas 46 horas e 32 minutos, usei toda a minha catilogência para tentar desvendar a conjuntura sócio-política econômica e cultural do Brasil e do Esporte Clube Vitória (o que dá no mesmo).

Completamente absorto em renitentes reflexões, acabei desembarcando no ano da  graça de 2003, época em que os donos da bola de Pindorama tramaram um golpe para escantear ainda mais os time periféricos . A tenebrosa transação foi claramente inspirada na prosopopéia de Georges Benjamin Clemenceau.

Sei que a esmagadora maioria da culta platéia que freqüenta esta impoluta emissora sabe tudo sobre o referido francês, mas para os 0,2% que não concluíram o curso do Instituo Universal Brasileiro informo que o sacripanta foi o ideólogo do cordon sanitaire, aquela escrota teoria de isolamento.

O problema foi que aplicado ao Brasileirão, a zorra num fucnionou a contento. Nos três primeiros anos, o São Caetano, o Atlético do Paraná e o Goiás furaram o tal cordão sanitário e entraram de penetra na festa dos bacanas.

Então, no ano da  desglória de 2006, eles deram o golpe fatal, reduzindo o número de participantes no Felicianão para apenas 20 clubes. A partir de então, somente times do eixo R.J, S.P, M.G e RS estiveram no topo, se lambuzando no banquete.  Para os restantes, sobraram apenas as migalhas da Copa Sulamiranda.

Para evitar quaisquer surpresas e blindar ainda mais os riquinhos, em 2012 eles aumentaram o abismo da receita com as (mal) ditas cotas de TV.

E tudo seguia maizomenos dentro do planejado. Contudo, eles não contavam com a astúcia e a habilidade certeira  de um personagem complexo, um homem-síntese, que mistura fidalguia e plebe, alta cultura e mass media.

Quem? Quem? Quem? Raimundo Nonato?  Não.

Todos de joelho no genuflexório para ouvir o nome do santo: WILLIAM pica-pau HENRIQUE 1º E ÚNICO.

Com menos de 90 minutos atuando no Felicianão e dois gols decisivos, o sujeito é responsável por reavivar o sonho libertador. Sua ousadia, assim como a do personagem do desenho animado, um dos poucos a pisar na calçada da fama, vai contribuindo para que possamos furar o cerco do maldito cordon sanitaire. E, com a autoridade da fidalguia de seu nome, ajudará a transformar o brioso Leão no primeiro e único Clube do Norte, Nordeste e  Centro Oeste a almejar uma vaga na festa dos bacanas, onde chegaremos cuspindo no chão e metendo o dedo na feijoada para azedar.

É isso, amigos. Com o auxílio luxuoso De WILLIAN pica-pau HENRIQUE e todo o seu ESTOFO SIMBÓLICO, o Vitória vai beliscar, digo, pinicar o impossível.

It’s all true

outubro 2, 2013

Alguns hereges céticos podem até afirmar (não sem razão) que o relato que segue abaixo é um tanto quanto fantasioso. Porém, apesar da descrença dos fariseus, eu lhes asseguro: é tudo verdade – e a moça do shortinho gerasamba (a minha Terta) está por aí nos pagodes da vida para não me deixar mentir.

Seguinte foi este.

No último domingo, o brioso Vitória começou a peleja contra o Atlético do Paraná de forma tão alucinante que, logo após o segundo gol, a velha Philco num aguentou o rojão. E começou a tremer mais do que a zaga atleticana diante do bombardeio do Leão. Foi nesta batida que, quando o ponteiro do relógio estava exatamente na FAIXA ETÁRIA de maizomenos 26 minutos e 18 segundos, a pobre TV abandonou de uma vez por todas este vale de lágrimas.

Então, diante de tão importante momento da nação, fui obrigado a contrariar minha religião e fazer algo absolutamente abjeto: acompanhar um jogo do Vitória no PC neandertalzinho, que trava mais do que coitos de cachorros no cio.

Apesar da exibição soberba do Rubro-negro, este rouco e cansado locutor estava aflito por ser testemunha deste grande fato histórico de modo tão malamanhado. Assim, decidi buscar refúgio num local decente: uma budega.

No meio do caminho, porém, não havia uma pedra, mas sim um vizinho, que recém mudou para o aprazível e pacato condomínio onde me escondo lá no glorioso Nordeste de Amaralina.

– Ô, rapaz, Está indo para onde?”

– Vou ver o jogo no Bar, sêo Acácio (eis o nome do santo), pois a TV de casa deu tchutcho, igual aos fliperamas do fim de linha daqui do Nordeste.

Gentil, ele larga: “Apesar do pouco tempo aqui, já soube que o senhor é um Vitória retado. E pé quente. Venha ver o jogo com a gente. (A gente no caso era o filho dele com o pé engessado e uma porra de uma cachorra pincher, chata pra caralho, que num parava de chorar, grunhir, gritar – sei lá que porra ela fazia).

O segundo tempo começa e eu suporto todos estes dissabores só para continuar vendo o baile do Leão. Logo de cara, antes do final da primeira volta do ponteiro, Marquinhos perde um gol que até a maldita cachorra faria. Mas ele num fez- e ele também não. E a disgramada latindo. E sêo Acácio achando tudo lindo.

Poucos minutos depois, porém, o sacana do tamborete de forró de 1 metro e meio que atende pelo nome de Ederson sobe no meio da zaga do Vitória e desconta. Sêo Acácio olha para este pé quente que vos sussurra profecia já com um ar de desconfiança.

Num tenho nem tempo de me ajeitar na poltrona e o sacripanta do Ederson, mais buliçoso do que a cachorra pincher, guarda outro. O olhar quase que furioso que Sêo Acácio lança em direção a este pé quente aqui parece denunciar que sua paciência está se esvaindo. Era como se eu fosse o próprio Victor Ramos.

O Atlético continua em cima (de lá ele) e pressinto que a casa começa a feder a homem ou a cachorra (Acho que a disgramada era uma cocker spaniel. Mau cheiro dos 600). Roger sobe sozinho e prevejo o apocalipse. Começo a amarrar a chuteira já pressentindo que serei expulso do recinto. Porém, Sêo Acácio prostra-se no sofá, conformado. Não tem mais nem o olhar furioso. Apenas balbucia. “É rapaz. Nós já sabemos como é o Vitória, né?”, pergunta-me derrotado.

Porém, antes que eu responda, ele começa a desfiar o rosário de lamúrias e tragédias. E relembra as duas viradas sofridas diante do Goiás, quando também estávamos vencendo por 3 x 0, além da tragédia diante do próprio Furacão, quando metemos 4 x 1 no Barradas, mas perdemos a vaga lá em Curitiba.

Neste momento emocional da partida, até a cachorra pincher ou cocker ou qualquer outra disgrama já estava também macambúzia. Nem latia nem fedia. Foi então que este locutor largou o doce.

– Acácio, seguinte. Pode anotar aí. O Vitória vai virar com um gol deste cabelo de Pica-Pau (William Henrique) que entrou aí.

Sêo Acácio num tem forças nem pra rir. O jogo segue e o disgramado do cabeça de Pica-Pau num consegue nem ficar em pé. Comete duas faltas bobas. Na segunda, o Atlético quase vira o jogo. O dono da cachorra olha pra mim com aquele olhar de lagoa seca, de ódio, que ACM devotava aos seus aliados que cometiam deslizes.

Decido então enfrentar o Cabeça Branca, digo, Sêo Acácio. E prossigo na aposta, apesar de nem eu mesmo fazer mais fé nenhuma. Como desmoralização pouca é bobagem, repito: “Pode escrever aí. Vamos virar com um gol do moleque”.

E tome-lhe pressão do Atlético. Então, Sêo Acácio diz. “Ô vidente. Num dá para você ver aí em sua bola de cristal que este jogo vai terminar empate, não, pois já seria um grande resulta…”

Antes de ele concluir a acomodada frase, Pica-Pau broca um golaço. Sêo Acácio se ajoelha em minha frente – e diz: “Obrigado, Pai Franciel”.

A mulher do referido, que detesta futebol, desce as escadas gritando. A cachorra volta a latir. E a feder. A balbúrdia se restabelece.

Sêo Acácio, que é ligado ao candomblé, acredita que tenho realmente poderes paranormais. Oportunista, informo que sou frequentador do Ilê Axé Omin Odá (É óbvio que omiti que vou no terreiro muito de quando em vez). Sêo Acácio começa a me tratar como se eu fosse um paxá.

Cabelo de Pica-Pau faz o lançamento (assistência quem presta é a Samu), Ayrton bate o prego no caixão e eu ressuscito como herói nacional ou do Nordeste de Amaralina – o que dá no mesmo.

P.S. Alguns hereges céticos podem até afirmar (não sem razão) que o relato acima é apenas culhuda. Porém, apesar da descrença dos fariseus, repito o que disse Orson Welles: It’s all true.

A dignidade na marca do pênalti*

outubro 2, 2013

Vagando em seus delírios eletronicamente revolucionários, o menino William Burroughs propugnava (recebam um propugnava nos mamilos, fariseus) que a linguagem é um vírus do espaço exterior. E mais. Dizia que a linguagem só não tem sido reconhecida como tal porque atingiu um estado de simbiose estável com o humano/hospedeiro.

Porém, quando adentramos nas quatro linhas, meu querido beatnik, num tem estabilidade certa. A linguagem (virótica) se transmuta de modo feroz e vira uma verdadeira infecção generalizada até mesmo nos seres razoavelmente equilibrados.

Sim, amigos de infortúnios, a turba ignara exige um pronunciamento sobre a excelente fase do Esporte Clube Vitória, invicto faz seis rodadas, com um técnico que, finalmente, prestigia a gloriosa divisão de base e um time que joga com destemor diante de poderosos adversários, seja dentro ou fora de casa. Porém, ainda assim, retorno a esta impoluta tribuna para afirmar que não há motivos para rir à toa. E digo mais. É preciso cessar todas as precoces comemorações, pois outro valor mais alto se alevanta.

gravíssima acusação de estupro contra jogadores do Esporte Clube Vitória tem que ser encarada com a seriedade que o assunto merece. É inadmissível o que está acontecendo. Um tema tão denso não pode ser debatido de modo irresponsável, tratado apenas como um Ba-Vi.

Hoje, de um lado do ringue, os adeptos do tricolor atacam os atletas do Vitória, propondo castigos medievais, sem ao menos saber quem deveria ser punido. Já do outro lado do front, a situação não é melhor. Alguns rubro-negros, digamos assim, moderados, sacam logo do coldre a síndrome de coitadismo e garantem que a notícia só ganhou as manchetes para prejudicar o Leão, “que sempre é perseguido”. Existe, contudo, uma parcela muito pior, que se utiliza dos mais abjetos e variados sofismas, travestidos de argumentos.

E tome-lhe perguntas capciosas do tipo. “Ah, mas o que ela foi fazer de madrugada no quarto de jogadores? Rezar?”. Outros, mais agressivos, nem se importam com perguntas, já partem direto para as mais baixas agressões. “Esta puta velha e feia quer apenas se promover às custas do Leão.”

Por sua vez, a diretoria do Vitória, através do responsável pelo setor de futebol, Raimundo Queiroz, também entra na ciranda de forma completamente cambaleante. “É uma mulher querendo se aproveitar da situação. Ela viu os jogadores uniformizados e tal. Nem apareceu no andar, temos um andar só nosso. Ninguém a viu. Deve ser alguma mulher procurando alguma coisa ilícita. Tudo já foi esclarecido. Não houve problema nenhum.”

O problema, Raimundo, é que seu nome pode até fazer parte da rima, mas o que você fala está muito longe da solução. As coisas não estão esclarecidas. Nem para condenar, nem para inocentar os atletas. É óbvio que seu dever é defender o Clube que lhe paga, mas isso não lhe dá o direito de agredir ninguém, reproduzindo os mais vis preconceitos.

E, como não poderia deixar de ser, o festival de sandices que assola o debate atinge a cobertura da imprensa. Enquanto uns veículos de comunicação dão destaques à declaração desclassificante da própria amiga da mulher que fez a acusação, outros estampam fotos de jogadores de modo totalmente irresponsável.

O fato que fica claro em toda esta disputa é que, uma vez mais, as fundamentais questões que envolvem a dignidade humana resvalam para a mais mesquinha disputa clubística.

Por fim, peço perdão ao bardo beatnik para um longo cut-up auto-referencial. Às aspas, maestro:

No Brasil, jogador de futebol em atividade pode cometer os mais diversos delitos que nada acontece. Estão acima da lei. Os boleiros daqui já confessaram relações perigosas com traficantes, cometeram homicídios no trânsito, brigaram em boates e em ambientes menos nobres, sonegaram impostos, praticaram o crime de racismo – e nada. No máximo, alguns impropérios ininteligíveis nas malditas mesas-redondas esportivas e tudo volta ao normal.

É óbvio que minha incurável superficialidade não me permitirá desenvolver uma análise abalizada sobre as causas de tão estranho e complacente fenômeno. Se ao menos possuísse uma vocação maior para o embromechion, chion, chion, poderia até inventar uma teoria sociológica de budega a la arnaldo jabor (desculpe-me pelo palavrão) e escrever devaneios do tipo: ‘Os guerreiros que participam das epopéias nos gramados, os dramáticos deuses da chuteira, estão acima das retrógradas legislações, pois são imortais e não podem ser julgados pelas leis comuns’. No entanto, como ainda possuo um tantinho assim de simancol, resta-me somente sacar do coldre o indefectível cepacol e bradar:

PUTAQUEPARIU TÃO NEFASTA IMUNIDADE!!!

E esta nefasta imunidade do grito acima começa a ser construída com as brincadeiras. Se o delinquente é de nossa equipe, já está perdoado por vestir o manto sagrado. Quando é do time adversário, fazemos chacota e coisas do gênero, mas não cobramos punição – até porque precisamos preservar a mística de que jogador de valor é aquele que foge aos padrões da (mal) dita normalidade”.

 

TExto escrito especialmente para o IMPEDIMENTO