Impor respeito em seus domínios. Eis um dos pressupostos básicos para um time que quer (e vai) ser campeão. Não entendeu? Então, tentemos uma linguagem erudita: a inviolabilidade do domicílio é uma garantia constitucional. Tá lá no placar, ou melhor, no inciso XI, do artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Ainda não compreendeu? Vamos botar um pouco mais de erudição e linguagem culta. Seguinte: um time não pode ser brocado em casa, porra.
Porém, mesmo com a proteção da Carta Magna, nos últimos anos o Vitória deixou correr frouxo. Em 2004, perdeu no Barradão para a Ponte Preta por 2 x 1 e caiu para a Segundona. No ano seguinte, não conseguiu vencer a Portuguesa (empatou em 3 x 3) e novamente desceu mais um degrau no futebol brasileiro.
Tal derrocada, entretanto, começou antes, exatamente numa data sinistramente simbólica. Em 2 de novembro de 2003, Dia dos Finados, o Rubro-Negro enfrentou o Goiás, ainda lutando por uma vaga na Sulamericana. E começou o jogo dando esperanças de que tão importante conquista não era impossível. No primeiro tempo, meteu 3 x 0 na equipe do Centro Oeste. Na segunda etapa, porém, esqueceu-se da garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio e permitiu que, incrivelmente, o jogo terminasse 4 x 3 para o Goiás. As duas quedas consecutivas logo depois foram apenas conseqüências da covardia nesta peleja.
E o que isto tem a ver com a campanha deste ano rumo ao título? Tudo, especialmente o respeito à nossa Casa. No campeonato brasileiro deste ano estamos com 100% de aproveitamento. Sim, 100%, porque o jogo contra o Cruzeiro não pode ser considerado uma derrota, conforme já expliquei AQUI.
E a mudança de atitude do Leão fortaleceu-se mais ainda no jogo de sábado, exatamente contra o mesmo Goiás. No primeiro tempo, numa partida truncada, o Vitória fez 1 x 0. Na etapa seguinte, cada jogador disputou e defendeu cada palmo do sagrado solo do Barradão como se fosse seu lar. Resultado: 3 x0 e a reafirmação da convicção de que o Barradão é nosso.
Tal apropriação do espaço nas quatro linhas reflete-se também na arquibancada. Faz muito tempo que a torcida não joga em total sintonia com o time, cobrando, mas principalmente compreendendo, apoiando e vibrando de forma espetacular mesmo nos naturais percalços de uma partida.
É por isso que reafirmo a PROFECIA de que este ano ninguém não tem pra ninguém, pois, além de outros fatores já citados aqui nesta tribuna, esta tomada de consciência da posse do Estádio por parte dos jogadores e dos torcedores só reforça a tese da conquista do inédito título.
Segura a Bahia, Gilberto Gil.