Archive for janeiro \30\+00:00 2009

Gramado do Barradão: 1,08 hectare de injustiça

janeiro 30, 2009

Nem é necessário esperar as regulamentares 48 horas para efetuar a seguinte,  tradicional, pertinente e retórica indagação: que fenômeno foi aquele que assombrou Soterópolis e uma banda de Pojuca na noite de ontem?

Irmãos de fé, em verdade vos confesso: desde que eu me entendo por gente, e lá vão alguns séculos, nunca presenciei tanta injustiça em tão pequeno pedaço de terra. E olhe que, por formação sertânica-revolucionária, labuto com a questão agrária antes da chegada de Thomé de Souza. Sei da gravidade do problema e das injustiças cometidas nos mais diversos latifúndios e minifúndios de Pindorama.

E é com esta autoridade que afirmo: todas as injustiças que ocorreram no conturbado Pontal do Paranapanema são nada diante do descalabro que se sucedeu na noite de ontem no Parque Sócio Ambiental Santuário Ecológico Manoel Barradas, Monumental Barradão. Os fatos presenciados pelas cinco mil testemunhas naquele 1,08 hectare de grama já entraram para a galeria das infâmias nacionais. Aquilo foi ultrajante. Uma desfaçatez.

Em verdade vos repito: Se os deuses da bola tivessem o mínimo de vergonha na cara não deixariam que o placar mostrasse no final Vitória 7 X 0 Poções. Caso existisse um mínimo de justiça no mundo do ludopédio, pelo que o brioso Rubro-Negro apresentou, era para ser 18 x 0. Tudo bem, concedo um abatimento aí, até porque meu Cepacol já estava no fim e eu não ia conseguir gritar gol mais 11 vezes. Mas, era para terminar estampado no placar pelo menos 13 x 0.

E já que estamos no campo da indignação, aproveito para fazer uma denúncia. Seguinte. Um informante desta impoluta emissora assegurou que o senhor Valmir Roseno dos Santos, o popular Bida, está fugindo da concentração Rubro-Negra toda terça-feira rumo a Itapuã.

A princípio, até duvidei da informação, pois, pelo que sei, o referido não é da mesma barca de Alan Delon e companhia ilimitada que saem à francesa dos regimes fechados rumo à noite soteropolitana.

Porém, depois da bola redonda e refinada que vi o sacana jogando ontem, fui obrigado a concordar. Realmente, Bida está fugindo da concentração e indo me ver jogar toda terça na Rua da Ilha, em Itapuã. Só isso para explicar a evolução do futebol do rapaz. Um assombro.

Bom. Chega de protesto! Vamos ouvir agora uma singela canção, entoada ontem à noite no Barradas. Maestro, caixa alta, por favor.

“PRIMEIRA-DAMA, SUA PIRIGUETE, O SEU TIMINHO TAMBÉM VAI TOMAR DE SETE”.

E antes de encerrar mais esta transmissão para 72 emissoras do Norte e Nordeste de Amaralina, ouçam, ajoelhados no genuflexório (recebam, sacanas, um genuflexório pelas caixas de catarro), o tradicional grito da galera.

UMBORA BITÓRIA, CARAJO.

P.S. Não adianta espernear, rebáin de miséra, a GLORIOSA  ENQUETE sobre o nome do blog já está encerrada.

And the winner is…

janeiro 28, 2009

Atenção, senhoras e senhores, é com a alma lavada e encharcada de emoção (dá-lhe Odorico!) que lhes informo sobre o sucesso da enquete que promovemos para renomear esta briosa emissora. Modéstias às favas, em verdade vos asseguro: foi um dos mais importantes e abrangentes movimentos de participação popular da história de Pindorama, um marco na democracia tupininquim.

É óbvio que em eventos desta magnitude não há como escapar das tradicionais tentativas de suborno, compra de votos e outras mumunhas que nos são caras, porém a impoluta junta apuradora garantiu a lisura do pleito. Trabalho, trabalho mesmo, quem teve foi o nosso Departamento de Matemática Aplicada à Enquetes (DMEA), que quase não conseguiu sistematizar a tempo todas as informações dos leitores. Também pudera. Inventei de realizar tão fundamental atividade cívica concomitantemente com o desenrolar do emocionante campeonato baiano. Mas, quem não aguenta vara que peça cacetinho. O fato é que, depois de tensas reuniões, o nosso DMEA enfim apresenta ao distinto público os resultados. Ei-los.

http://www.ingresiarubronegra.wordpress.com obteve 82,14% dos votos.

http://www.bitoriacarajo.wordpress.com 29,42%

http://www.segureacabecitadelamadre.wordpress.com 15,87% e

http://www.victoriaquaeseratamen.wordpress.com 0,0018%

Diante disso, declaro que a partir deste momento esta briosa e intimorata emissora passa a se chamar www.victoriaquaeseratamen.wordpress.com

O quê? Como?

Nécaras. Não tem aparte nem questão de ordem, nobres deputados. A questão já foi decidida democraticamente. E o nome sugerido pelo leitor Renato K. foi o escolhido.

O quê? Como?

Não, senhor deputado. É claro que a escolha não tem nada a ver com a pequena contribuição financeira que ele deu para amenizar as dores de minha maltratada conta bancária. A Bahia e uma banda de Sergipe me conhece e sabem que não me deixo subornar por tão pouco.

O quê? Como?

Chega!

Bom. Como não há mais orador inscrito, não há mais ata para ser lida, invoco a proteção de Deus e declaro encerrada a presente sessão.

P.S Quaisquer dúvidas, reclamações, inquirições, indagações favor dirigir-se ao pé do caboclo no Campo Grande. Os renitentes podem também se queixar com o bispo, ou melhor, com o arcebispo Geraldo Majjela. E como ainda não perdi meu espírito cristão, recebam de cortesia o endereço da Arquidiocese de Salvador: Av. Leovigildo Filgueiras, 270 – Garcia, CEP: 40 100-050 – Salvador -Ba. Telefone: (71) 4009-6666 E-mail: contato@arquidiocesesalvador.org.br. P.S. 2 Pra encerrar, mais uma prova de que sou um homem democrático. A caixa de comentários continua aí para que vocês exerçam o sagrado direito ao jus sperniandi.

Deus lhes pague.

TV, máquina de fabricar terroristas

janeiro 26, 2009

Antes de começar a mais esperada resenha esportiva do Norte e Nordeste de Amaralina, uma digressão. Seguinte é este. Nos primórdios da TV, quando nossa atrasada e oximorística modernidade começava a invadir os corações e mentes dos habitantes de Pindorama, Tia Zulmira, personagem do genial Stanislaw Ponte Preta, largou a seguinte a definitiva assertiva sobre o novo aparelho: “É uma máquina de fazer doido”.

Tal avaliação, por atemporal, continuava atual até o início do campeonato baiano. Porém, depois das transmissões da Record, a TV deixou de ser um equipamento de fazer maluco para se transformar numa máquina de fabricar terrorista. Afinal, mesmo para este pacífico locutor, é impossível assistir a uma partida na referida emissora sem ficar com vontade de matar pelo menos três pessoas. E ontem, no jogo entre Vitória x ECPP não foi diferente. Vá matar o demônho! (deixe escrito desta forma mesmo, revisor fiduma santa).

Será que não tem uma única pessoa com o mínimo de senso de noção naquela zorra? Como é que aqueles burocratas não perceberam que lá em Vitória da Conquista se desenrolava o mais importante jogo da rodada e um dos mais importantes do certame? Como? Oh, Senhor Deus dos desgraçados, em que nuvem negra se esconde que não toma logo uma providência? Por que diabos Vossa Excelência deixa que estes energúmenos fiquem interrompendo a peleja da década para mostrar um baba da porra lá no Estádio Roberto Santos? (quem chama o estádio de outro nome é a torcida do Itinga que gosta de rima rica).

Não bastasse sermos obrigados a enfrentar a poderosa e espúria aliança entre o pefelê, pemedebê, petê, governador, STF e Ibama, agora ainda vamos ter que derrotar também a TV Record. Amigos, em verdade vos confesso: é praticamente impossível orientar a equipe com a porra daquela emissora interrompendo a transmissão a todo instante. Até mesmo este concentrado locutor comete um descuido. (Como se já não bastasse a MOÇA GERASAMBA). E foi assim que, aos oito minutos, depois deste tumulto televisivo, pisei em astros distraído e o ECPP meteu 1 x 0.

Mas, não adianta. Pode entrar quem mais quiser nesta aliança macabra que brocaremos este TRI. E por que tenho esta certeza? Seguinte. Nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTPs), Apodi, nosso brioso lateral (ala é a puta que o pariu), não consegue controlar nem o pé. Pois muito bem, torcida brasileira. Ontem, o referido realizou o que parecia impossível: botou a cabeça no lugar e meteu um golaço aos 48 do 2º tempo. Depois que vi ele imitando Dadá Maravilha cheguei à conclusão de que só existem duas hipóteses para o espantoso fenômeno de Apodi ter conseguido fazer um gol de cabeça: ou o mundo acaba agora em fevereiro ou levantaremos a taça no dia 3 de maio.

Umbora Bitória, Carajo.

 

P.S. A quem interessar possa.

Fiz uma análise isenta e abalizada sobre a rodada do último domingo exclusivamente para o melhor site de futebol da América Latina  e adjacências, o glorioso IMPEDIMENTO.

Confiram no WWW.IMPEDIMENTO.WORDPRESS.COM  

O título da matéria é Troféu Dendê 2009.

Haja nervos de aço!

janeiro 22, 2009

Faz-se mister, de quando em vez, deixar a graça de lado. E ontem foi um destes dias. Logo cedo, após acordar com o psicológico abalado, decidi chutar as piadinhas para o escanteio e optei pela compenetração. Aliás, minto. Na verdade, deixei a emoção falar mais alto, com aquela ansiedade típica de criança que vai viajar e um nervosismo maior do que casal de namorado que ainda não deu o primeiro beijo. Um alvoroço dos seiscentos!

Alguns incautos podem até achar que estou sendo hiperbólico. Outros, maldosos, ao verem este linguajar emotivamente derramado, já insinuam que este masculinástico locutor se androginou, tal e qual aquele camarada da canção de Benito de Paula Luiz Ayrão (valeu, Anrafel) . Mas, eu digo nécaras.

E digo nécaras, afinal, porque havia um motivo de força maior para esta minha variação de humor e de estado emocional. Ei-lo: exatamente às 20h30 iríamos enfrentar a temível equipe do Colo-Colo no Estádio Mário Pessoa, em Ilhéus.

Para os que ainda acham que faço drama ou graça, eis alguns informes tenebrosos: o último triunfo do brioso Rubro-Negro naquela praça esportiva datava de 2003, o que, segundo a matemática moderna, dá exatamente seis anos de jejum. Não bastasse isso, rondava no ar o espectro da TRAGÉDIA de 2006, quando perdemos a chance do inédito PENTA em duas partidas de virada e levando quatro gols.

Some-se a isto mais duas fantasmagóricas coincidências: o retorno do carrasco Ednei e do lateral direito (ala é a puta que o pariu!) Alex Santos à destemida equipe ilheense. E os dois estavam com gosto de sangue na boca. O primeiro, porque foi provocado bisonhamente por nosso comandante  Mancini, que disse não saber se o tal atacante “era branco, negro ou japonês”. Já o outro, porque pertence ao Vitória, mas novamente foi enjeitado, igualmente como aconteceu em 2006.

Mas, isto são só prolegômenos. O pior vem agora. Ligo a TV e ouço a voz fanhosa e os comentários imbecilizados de Raimundo Varela. Logo em seguida, entra em campo o árbitro Arilson da Anunciação num modelito mais apertado do que aquele que trajava a MOÇA GERASAMBA. Penso com meus paranóicos botões: Fudeu Maria preá.

E as piores previsões parecem que vão se concretizar. Menos de cinco minutos de bola rolando e Alex “Macaco” Santos cai pela lateral direita (ala, repito, é a puta que o pariu) fazendo mais estripulias do que chipanzé em zoológico. E dribla, e chuta e deixa minha zaga completamente atordoada. Alguns minutos depois e o juiz mostra que, apesar de não entender de indumentária, conhece outras artes, como por exemplo a do furto qualificado. E ignora um pênalti claro, e depois outro. Só não desligo a TV porque sou um homem de fé e também porque tenho boa potência na voz. Assim, grito para Jackson: Chuta a porra da bola, carajo. E ele dispara um torpedo de fora da área, furando a rede e as porra. Depois oriento Washington, que também manda uma para o barbante.

Mas, com apenas 2 x 0 no placar, o filha da puta do juiz inventa de dar três infindáveis minutos de acréscimo. Para sorte dele (juro que ia dar uma surra de cansanção no sacana quando ele voltasse a Salvador) e de minhas 12 pontes de safena, nada de mal acontece. E aqui estou são e salvo para discorrer sobre os aspectos táticos da peleja.Aliás, melhor não. O telefone tá caro, já falei muito e o nível técnico das duas equipes ontem não merece mais nem uma linha. Ademais (recebam, sacanas, um ademais no parágrafo final) preciso fazer uns gargarejos para orientar a equipe contra a poderosa agremiação de Vitória da Conquista no próximo domingo.

Umbora Bitória, carajo!

Jovens, alistem-se

janeiro 20, 2009

Não sei se vocês estão sabendo, mas o ano da graça de 2009 já começou. E, por conta desta mudança no calendário, faz-se mister alterar também o nome do blog, que ainda carrega o peso do ano passado.   

Como sou um sujeito afeito à democracia (eufemismo que criei para minha falta de criatividade), solicito à  qualificada e culta audiência sugestões de nomes para o blog novo, que, na verdade, continua o mesmo, com as mesmas chibanças pebolísticas (eu falei pebolismo, hereges).           

De saída, pensei nestes dois que seguem abaixo e que explico mais abaixo ainda.

www.bitoriacarajo.wordpress.com

www.ingresiarubranegra.wordpress.com

O primeiro, o bitória, é porque este ano disputaremos a suda e temos que hablar diversos idiomas. E Bitória, segundo me assegurou o avô do menino Borba, significa Vitória em Basco Castiço.

Já o último, o ingresia rubro-negra, remete ao nome de meu outro blog.

Pronto. Tudo que tinha quer ser falado, já foi falado. Agora, jovens, deixem de boréstia, alistem-se e apresentem sugestões. O Brasil precisa de vocês.

O imprevisível está à solta

janeiro 19, 2009

Com o raciocínio obnubilado (recebam, sacanas, um obnubilado logo na primeira linha) pelas chibanças do verão, grande parte dos habitantes desta província lambuzada de dendê não se deu conta de que ontem começou a mais importante epopéia do ano da graça de 2009, a mãe de todas as batalhas: o glorioso campeonato baiano.

Maestro, por favor, bote mais um pouco de agudo na caixa de som que vou repetir a informação para esta gente ensurdecida pelas zuadas dos trios elétricos. Seguinte é este, rebain de miséra:  ontem começou a mais importante epopéia do ano da graça de 2009, a mãe de todas as batalhas: o glorioso campeonato baiano.  E, pelo que vi na primeira das 25 rodadas desta enxuta competição que vai até o dia 3 de maio, vos asseguro: vai ser emoção pra mais de metro. 

Antes de analisar os jogos iniciais, porém, faz-se mister registrar que a torcida do Vitória não mudou nada. Com apenas 2 minutos e 37 segundos de bola rolando no Monumental Barradão, um senhor de meu lado já largava a seguinte. “Este time de Mancini tá todo embolado no meio de campo. Já estou me retando”.

Ato contínuo, veio-me a imagem DAQUELE OUTRO CIDADÃO que subiu as arquibancadas e tirou a roupa. E, após pensar com meus  moralistas botões, orei baixinho. “Senhor Deus dos desgraçados, não deixe que se repita aquela tenebrosa cena do jogo entre Vitória x Portuguesa”.  E Ele, generoso, mandou o apóstolo Washington e mais dois cristão novos, o brioso Neto Baiano e André Luis, para acalmar os nervos do referido torcedor. E Ele concedeu a graça de metermos 3 x 0 na poderosa equipe do Atlético de Alagoinhas.

Mas tem coisa que tá fora do alcance até do Nosso Senhor. Um exemplo? Ouçam.

Jogo praticamente ganho, ouço a voz meiga e atrevida de uma moça que nunca vi mais gorda, até porque se ela tivesse mais 150g não caberia naquele shortinho gerasamba. (Antes de prosseguir o relato, abro este parênteses para um serviço de utilidade pública. Seguinte. Aos incultos, que não conhecem a linha evolutiva da indumentária musical baiana, informo que a referida peça de roupa tem, no máximo, uma área total de 6,38 cm²). Parênteses fechado, vamos dar voz à moça.

Ela olha fixamente para este religioso locutor e diz: “E Milton Nascimento?”. Penso em perguntar: “O que é que tem? Morreu de novo?”. Mas, ela intorrompe minhas divagações e larga: “O show de Milton Nascimento no TCA foi massa. Você foi?”.

Aí, completamente mudo, apenas penso: “Que diabos eu vou fazer num show de Milton Nascimento? Ou melhor. Que porra é que o cantor mineiro tem a ver com a peleja contra o time de Alagoinhas? Ou melhor ainda. O que foi que Milton Nascimento perdeu naquele shortinho?”.  

Estas indagações, que estão sem resposta até agora, mostram que neste Baianão o imprevisível está à solta. E prova disso é que, logo após este meu quase diálogo com  a menina, o Itinga Futebol Clube, contrariando toda a lógica do futebol, conseguiu fazer a porra de um gol e empatar o jogo contra o brioso Itabuna na maior zebra do início da competição.

E eu voltei a orar porque vi que este campeonato não vai ser brincadeira. A orar e pensar que diabos uma moça com um shortinho daquele tamanho estava fazendo no Teatro Castro Alves. E, por conta destas atribulações, acabei me esquecendo de falar sobre a rodada inicial e sobre a soberba apresentação do Rubro-Negro. Fica pra próxima – isto se a moça do shortinho não aparecer novamente para embaralhar meu raciocínio perguntando se eu fui no show de Chico Buarque.

Salve a Bahia, Sinhô!

Humilhado e ofendido pelas pequenezas do Brasil

janeiro 14, 2009

Atendendo a um chamamento do melhor site de futebol do Brasil, O IMPEDIMENTO  , fiz a relação das 10 maiores humilhações sofridas pelo brioso Rubro-Negro na minha concepção. 

A princípio, pensei até em não aceitar a proposta deles, mas, depois que me raciocinei todo, vi que isto serviria como catarse para purgar os fracassos e iniciar de forma vitoriosa este ano da graça de 2009. Recebam.

Humilhado e ofendido pelas pequenezas do Brasil

Das promessas de ano novo, uma das mais inflexíveis foi a seguinte: não quero conta com o ludopédio nos próximos (e longos) 18 dias. E foi negócio sério. Jurei a ninguém menos que São Bill Shankly que só romperia esta abstinência quando começasse uma das competições mais importantes do planeta, o campeonato baiano. Cristão ortodoxo, nada me demovia desta inabalável convicção. Nada, vírgula, quase nada. Como diria a vedete de Santo Amaro, a força da grana, realmente, ergue e destrói coisas belas. E o vil metal entrou em campo tal e qual os zagueiros de antanho, dando chutes e pontapés nas minhas crenças. Amigos, em verdade vos confesso: os astronômicos valores da tenebrosa transação envolvendo os executivos da ImpedCorp e meu impoluto empresário jogaram minhas imutáveis opiniões para o escanteio. E decidi voltar ao pebolismo (eu falei pebolismo, hereges) e listar as 10 maiores humilhações sofridas pelo brioso Rubro-Negro baiano. Porém, igualmente Corisco, não me entreguei facilmente. E, na assinatura do leonino contrato, fiz as seguintes exigências. Primeira. Obedecendo às recomendações da SBPC, realizei um corte epistemológico. Assim, as humilhações tinham que ter carinha de ninfeta, menos de 18 anos. Além disso, não seriam consideradas goleadas para times grandes. Só valia ser humilhado e ofendido pelas pequenezas do Brasil. A bem da verdade, nem mesmo determinadas goleadas para times pequenos entrariam na nominata. Afinal, como não diria a dupla sertaneja Ortega Y Gasset : uma humilhação é uma humilhação e suas circunstâncias. Seguindo esta metodologia, os 6 x 0 sofridos diante do Criciúma, em 2006, e os mesmos 6 x 0 que levamos do Brasiliense, em 2007, não seriam computados, pois nas duas pelejas cumprimos nossos objetivos: subir para a segundona e depois para a tal zelite do pebolismo. Mas, chega de prolegômenos (recebam, sacanas, um prolegômenos pelas caixa de catarro) e vamos às históricas e retumbantes humilhações rubro-negras, que, vos asseguro, humilhará as tragédias dos outros times.

Vitória 1 x 2 Baraúnas (06.04.2005)

Com a moral elevada de quem havia sido semifinalista no ano anterior, o Leão começa a Copa do Brasil de 2005 botano pra vê taúba lascá ni banda. Sem dó nem piedade, mete logo 3 x 0 na poderosa equipe do Confiança de Sergipe. O próximo adversário é a perigosa Associação Cultural Esporte Clube Baraúnas, que acabava de eliminar o América Mineiro. Não bastasse tão importante credencial, o time potiguar ainda possuía no comando do ataque Cícero Ramalho, o Cabañas do Agreste, jogador tão ágil e gordo quanto um porco espinho. Por tudo isso, sabíamos que seria uma labuta dos seiscentos, inclusive porque já havíamos perdido o jogo de ida por 1 x 0. Porém, acreditávamos na classificação. Ou, pelo menos, numa despedida honrosa. Mas, quá. Como diria o menino Xico Sá, tivemos que subir as escadarias do Barradão chupando o chicabon da melancolia.

Vitória 1 x 1 Baraúnas (22.02.2007)

Vindicta ainda que à noitinha. Estava tão certo que havia chegado a hora da vingança contra os potiguares que fiz algo raro nos últimos três séculos: me abstive de comparecer a um jogo do Vitória. E minha crença não era vã. Além do Rubro-Negro ter acabado de subir para a Segundona, a equipe de Mossoró não contava mais com o bara, bara, una, homem-gol Cícero Ramalho. De férias, troquei o conforto do Parque Sócio Ambiental Barradão pelas agruras de outro Parque, o da Chapada Diamantina. E tome-lhe banho de Cachoeira, de rio, de riacho, o diabo. Na sexta-feira cedinho, antes do café da manhã, faço uma estranha solicitação ao dono da pousada. – Moço, ligue a TV aí por favor. – Mas, Sêo Françuel, o senhor não disse que TV era coisa de gente indecente? – Disse, mas é que quero ver os gols e os lances espetaculares do jogo do Vitória de ontem à noite. A maldita apresentadora abre o telejornal assim. “Mais uma vez o Vitória foi eliminado pelo Baraúnas”. – Desliga esta miséria, moço. Televisão não presta pra nada mesmo. E voltei correndo para Salvador, deixando para trás as belas paisagens e mais 50 gramas de produtos não recomendados pela Carta Magna. E pensei com meus humilhados botões: É só abandonar esta porra de time que acontecem estas tragédias.

Vitória 1 x 4 Itinga (21.04.2008 )

Às vezes, o Vitória não respeita nem mesmo minha presença. No mais louco campeonato de todos os tempos, liderávamos o quadrangular final e era chegada a hora de devolver a derrota da fase inicial contra o Itinga. Menos de 15 minutos de jogo, porém, em jogada pelo lado direito, a carniça mete 1 x 0. Faço uso do frasco de Cepacol e começo a alertar Willians, que, de forma improvisada, ocupava a lateral direita (ala é a puta que o pariu). Grito e oriento, como há muito não fazia. No entanto, o infeliz continua deixando a avenida aberta. Grito mais. Nada. Além do surdo, o desgraçado não usa aparelho auditivo telex. Resultado final. Quatro gols pelo mesmo lado. Perdemos a liderança e a vergonha.

Vitória 1 x 1 Itinga (07.08.1994)

Já que falamos da carniça, não há como deixar de fora esta zebra histórica. Antes, porém, um pouco de contextualização e caldo de galinha, que não fazem mal a ninguém. Seguinte. No ano anterior, o Vitória encantou a Bahia e uma banda de Sergipe chegando à final do campeonato brasileiro contra o Palmeiras. E começa o ano da graça de 1994 de forma arrasadora, ganhando quatro partidas seguidas do ex-rival, sendo duas de goleada. Era, portanto, franco favorito à conquista do título, apesar da carniça jogar pelo empate por obra e graça destes impenetráveis regulamentos do campeonato baiano. Mas, minha fé no sucesso era tanta que desobedeci a um dos maiores ensinamentos de meu falecido pai que, nos sermões antes do almoço, sempre alertava. “Meu filho, teime, teime, teime muito, mas não aposte”. Botei uma grade de cerveja na base do bico seco. Aos 46 minutos do segundo tempo já pensava nas gelosas quando Raudinei empata o jogo e cala metade das 100 mil pessoas que lotavam a velha Fonte Nova. Além de perder o título, tive que ficar no Milongas Bar ouvindo a noite toda a seguinte e insuportável canção: “Bem que eu lhe falei, bem que eu lhe falei, que o Vitória se fudia com um Rodinei“. Os analfabetos não sabiam nem o nome do cara que fez o gol. Esta, porém, foi a última glória do Itinga Futebol Clube. O desespero dos zé ruelas é tanto que ainda hoje comemoram este gol, inclusive lançaram até livro. Coitados.

Vitória 2 x 4 Colo-Colo (28.05. 2006)

Tragédias belas são aquelas que ocorrem na minha aldeia. Por isso, as cinco primeiras humilhações escolhidas foram exatamente com times da Bahia e do Nordeste. E encerro esta epopéia regionalista com o relato da decisão do campeonato baiano de 2006, contra o imbatível Colo-Colo de Ilhéus. Ostentando o brasão de atual tetra-campeão baiano, o Vitória começa a competição como franco favorito. Se fosse por pontos corridos, o Leão seria campeão com 30 rodadas de antecedência. Mas, não era. E tivemos que disputar um mata-mata contra a equipe de Nacib. E o quibe entrou. Na verdade, quatro. E de virada. Na ocasião, desenvolvi 10 teorias para explicar a derrota. Quem estiver desocupado, confira aqui, ó. Aos assoberbados, resumo informando que a entrega do título foi um ato de generosidade do Vitória, pois havia 37 anos que uma equipe do interior não se sagrava campeã baiana.

Vitória 0 x 1 Paraná (11.07.1992)

No glorioso ano da graça de 1992, a cantora Sandyejúnior lançou o álbum sábado à noite.

Caso eu tivesse um mínimo de cultura, no dia 11 de julho de 1992, um sábado à noite, ficaria em casa apreciando tão importante obra na linha evolutiva da música brasileira. Mas, quá. Só quero saber de bola. E despenquei para a Velha Fonte Nova para assistir a primeira grande tragédia nacional do Vitória. Lutando por um triunfo simples para conquistar o título da Segundona contra o Paraná, o Leão passou a partida toda sem dar um chute a gol, num dos jogos mais apáticos da história do balipódio.

Putaquepariu!

Puxei o Cepacol do coldre e comecei a gritar e xingar, mas um amigo fez um sábio alerta. “Rapaz, pare com isso. Este time não merece nem sua vaia”.  

 

Vitória 1 x 2 Ponte Preta (19.12.2004)

Neste ano, o Vitória começou o campeonato de modo avassalador. Nas cinco primeiras rodadas, apenas uma derrota, um empate e três vitórias, sendo duas goleadas (6×1) no Paraná e (5×1) no Flamengo.

Mas, amigos, em verdade vos informo. A axé music prejudica não só a música brasileira, mas também o futebol. A máfia do dendê não é brincadeira. Capitaneados por Edílson Capetinha, que abriu uma casa de pagode, o Ed10, os jogadores rubro-negros caíram na gandaia. E a equipe caiu de produção. De candidato ao título, o time chegou à última rodada lutando contra o rebaixamento. Lutando é forma de falar. Completamente ressaqueados, os infelizes não esboçaram qualquer reação contra uma Ponte Preta que não almejava mais nada e estava sem cinco titulares.

É óbvio que a torcida também enchia a cara. E se todos assim procediam, não seria o rouco locutor que desta lei da natureza baiana iria ter isenção. E tome-lhe canjebrina. Acontece que tem uma lenda que vaia de bêbado não vale. Então, por isso, ao invés de apenas xingar, logo após o término deste jogo parti para cima do alambrado sem dó nem piedade. A cordial polícia baiana deu prosseguimento à folia com cassetetes e bomba de gás lacrimogênio, o que não influenciou no resultado da partida, mas melhorou consideravelmente minha embriaguez. Uma beleza. 

 Vitória 3 x 3 Portuguesa (10.09.2005)

Deste jogo, que selou a queda do Vitória para a inédita Terceirona, digo apenas que aconteceu uma das cenas mais constrangedoras da história do Parque Sócio-Ambiental de Canabrava, Santuário Ecológico Monumental, o Barradão.

Quem tiver curiosidade clique NESTE LINQUE e vá até o fim do relato.

 Vitória 3 x 4 Goiás (02.11.2003)

Se macumba ganhasse jogo o campeonato baiano terminava empatado.

Alguns dizem que esta frase é de Neném Prancha. Já outros, garantem que ela foi proferida por João Saldanha. Não importa. O fato é que, em se tratando do ludopédio, não devemos desprezar o Sobrenatural de Almeida. Não se pode cantar vitórias muito cedo nem mandar flores para a cova do inimigo (royalties para o bigodudo xibungo cearense, desculpem-me tantas redundâncias).

Pois muito bem. Exatamente no fatídico Dia de Finados o Vitória terminou o primeiro tempo metendo 3 x 0 no Goiás. Diante de tão dilatado placar, subi as arquibancadas e fui comemorar numa das quatro budegas do Estádio. Ainda embriagado, não acreditei quando o placar marcava 4 x 3 para o Goiás, de virada. Apesar de alguns afirmarem que quando bebemos esquecemos, garanto-lhes que uma humilhação movida a álcool é inolvidável.

 

Vitória 3 x 3 Grêmio (03.05.1997)

Por último, para encerrar a série, deixei exatamente a maior humilhação dos últimos tempos. Ser eliminado da Copa do Brasil duas vezes pelo Baraúnas, ainda vá lá. Agora, ser eliminado por um timeco do porte do Grêmio, que ainda por cima é tricolor, é quase que inacreditável.

Mesmo tendo perdido a partida de ida por 2 x0, eu sabia que era perfeitamente viável a classificação às semifinais. Eu e mais 40 mil fanáticos. E, realmente, mostramos que o time gaúcho não era de nada. E metemos três. Só que o miserávo do Júnior Touché (isto lá é nome de zagueiro) entregou a rapadura. E depois que terminou Vitória 3 x 3 Júnior Touché fiquei tão injuriado que voltei para casa andando, não sem antes parar em 946 bares.  Um pouco sobre esta saga e suas conseqüências  aqui, ó.