Caso esta emissora não proibisse o egocentrismo desenfreado, a abalizada resenha de hoje seria dedicada exclusivamente às minhas desventuras para acompanhar a peleja entre Vitória x Vila Nova.
Para que vocês tenham idéia do sofrimento deste narcísico locutor, exatamente às 20h30 estava preso no trabalho, sem nenhuma perspectiva de sair durante o jogo. Não bastasse a impossibilidade de praticar o velho zig, descobri que os computadores da briosa repartição onde labuto são bloqueados pra qualquer tipo de transmissão on line.
Como diria o impoluto Edir Macedo: Ô, grória!!!
Porém, amigos de infortúnio, em verdade vos confesso: Quando me deparei com a real ameaça de ficar sem poder acompanhar um jogo do Leão, bateu uma angústia dos seiscentos e percebi, naquele fatídico instante, que aquele ditado sobre “o que os olhos não vêem o coração não sente” é conversa de chifrudo conformado. (E, já que falei em corno, informo que havia na sala um torcedor do sardinha com o rádio sintonizado numa destas emissoras da vida. Aliás, minto. Na verdade, era um celular, pois os cornos trocaram o radinho pelo celular).
Mas, o fato é que o sofrimento sem a visão, à distância, é uma disgrama. Quando não podemos ver e apoiar nosso time somos vítimas de uma dilacerante sensação de impotência.
E ontem pude sentir isso claramente. A bola começa a rolar e constato que a pior coisa do mundo é não conseguir ver o time e ter que ouvir jogo pelas emissoras radiofônicas da Bahia. Aliás, minto novamente. É a segunda pior coisa do mundo. A experiência mais desagradável, a pior das piores, é escutar jogo do Vitória num celular de uma tricolete. Bastava o Vitória ameaçar ir para o ataque que o sacripanta logo abaixava a porra do som.
PUTAQUEPARIU A PICUINHA!!!
A minha sorte é que locutor baiano sabe narrar porra de nada. E foi assim que, enquanto o Zé Ruela ia naquela batida de anunciar um monte de coisas que ninguém nunca escuta nem vai comprar, consegui ouvir o primeiro gol Rubro-Negro. “Lá vem o Vila Nova, pressionando, pressionando…o Vitória retoma, atenção, Uelliton cruza, Marquinhos chuta e…”. nem adiantou o desinfeliz abaixar o som. Eu já sabia que era saco.
Pois bem.
Depois de mais alguns minutos vendo que não conseguiria acompanhar a catilogência do referido locutor (recebam, hereges uma catilogência nos mamilos), comecei a viajar, literalmente, nas sensações experimentadas por aqueles que estão longe do torrão natal, mas que nunca deixaram de sofrer, digo, torcer pelo Vitória. E enquanto o homem da latinha berrava prosopopéias incompreensíveis, percebi claramente como é a aflição provocada pela distância. Por conta da (mal) dita locução, senti-me um desterrado. E, igualmente aos desterrados, fiquei completamente desesperado, mas finalmente compreendi o que sentem algumas pessoas, especialmente as que moram em outros países, com quem passei a manter contato por causa do MSMV.
E lembrei-me do menino Jorge Bassivisky (vá fazer rima na casa do caralho) que agora, depois de velho, fica ameaçando abandonar o Vitória por conta dos tropeços. Antes eu ficava até indignado com esta postura do referido, mas agora o compreendo. É o desespero da distância.
Por falar em desespero, ninguém mais emblemático do que Marco Arizona. Basta o Leão vacilar, que ele, tal e qual um guerrilheiro juvenil, já prega logo a revolução. A partir de hoje, serei mais tolerante também com seus desabafos. É o desespero da distância.
Por fim, destaco Marco Rolim, também morador dos EUA, mas que ao contrário dos dois primeiros, ainda não conheço pessoalmente. Porém, , já percebi que também age de forma completamente apaixonada e desesperada. (Outro dia, inclusive, escreveu-me um belo e longo texto que publicarei aqui, falando que, toda vez que a ameaça do ex-presidente começa a assombrar, ele esquece até a incompetência da atual diretoria diante do que considera um mal maior). É o desespero da distância.
Contudo, pensei também que se o desespero deles é assim, menor não deve ser a alegria após cada Vitória.
Pois muito bem.
Como já disse e repeti, a partir de agora serei muito mais compreensível com todas as ações destes que amam à distância e sentem-se um tanto quanto impotente para agir. Só não compreendo, de fato, aqueles que se dizem torcedores, moram nesta província, mas não comparecem ao estádio para apoiar o time. É desleixo e indiferença.
Para estes, desejo apenas que fiquem isolados do mundo e só consigam escutar o jogo através de um celular de um torcedor da sardinha. E outra: Praga de cabeludo pega.
Mas terminemos falando de jangada, que é pau que bóia: Sábado estarei lá no Santuário com três litros extras de cepacol para gritar por mim e pelos meus amigos desterrados.
Vamos nessa, rebain de incréus, pois, com a nossa força, nem mesmo o amadorismo da diretoria irá segurar o Leão rumo à Série A.