HOMBRIDADE

Ao contrário do que pensam os idiotas da objetividade, futebol não se resolve apenas nas quatro linhas. Na verdade, há muito mais obstáculos entre o tiro de meta e a zona do agrião do que imaginam aqueles que raciocinam somente em linha reta. Às vezes, um jogo é decidido antes mesmo de a bola rolar. E creiam: uma atitude digna pode ser tão importante para o resultado final quanto um arremate certeiro, pois mexe com valores subjetivos que acabam por influenciar o desempenho da equipe em campo.

E a agoniante partida de ontem à noite contra o Atlético do Paraná, por exemplo, começou a ser ganha muito antes do fidumasanta de Wilson Lambança soprar o apito inicial.

Mostrando que, além de craque, é também um líder neste elenco, o menino Leandro Domingues deu uma entrevista conclamando o grupo à união. Aliás, mais do que conclamar, deu o exemplo e o largou a seguinte: “Vou ao estádio para dar meu apoio e torcer por eles“.

Putaquepariu futebol, dignidade e regatas!

Esta declaração, que a princípio pode parecer banal, foi tão importante quanto aquelas arrancadas endiabradas e passes geniais que ele tem oferecido aos homens e mulheres de boa vontade que têm tido o privilégio de vê-lo desfilar sua categoria neste brasileirão. Uma beleza. Craque de bola e craque de verbo.

E antes que alguns argumentem que elogiar Domingues, neste momento, é desnecessário, em verdade vos digo: esta atitude dele contagiou o elenco e, creio, serviu também de inspiração para que as relações entre Mancini x Ramon*  atingisse um patamar de respeitável lealdade. Ambos cederam e saíram do episódio maiores do que entraram.

Aos fatos.

Logo que ficou impossibilitado de escalar Leandro Domingues, Vágner Mancini deu entrevista apaziguadora (parece que ele voltou muito mais amadurecido, apesar do pouco tempo fora), dizendo que Ramon era o substituto natural, pois experiente, sábio, entre outros adjetivos.

A partir daí, a relação entre os dois, que se esgarçou no ano passado, começou a ficar menos tensa. Nada garantia, porém, que as coisas pudessem dar certo. No entanto, há uma frase pichada no muro do Porto da Barra, atribuída a Caetano Veloso, que serve muito bem para ocasiões como esta. Ouçam. “É incrível o poder que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer”.

Eis uma verdade universal. E as coisas aconteceram. Ramon entrou em campo com uma garra que não demonstrava desde o século IV Antes de Cristo. Parecia que estava disposto a provar para o técnico e talvez para si mesmo que ainda é útil ao elenco. No primeiro tempo fez uma partida quase que impecável. Marcou, reclamou, chamou o jogo para si, driblou, fez lances de efeito e, principalmente, um golaço.

Apesar de estar feliz com seu desempenho que contribuía para mandar a urucubaca para a casa da zorra, este renitente locutor ainda olhava para o ex-reizinho da toca com desconfiança. Afinal, como disse lá no início, futebol não se resolve apenas nas quatro linhas.

Pois muito bem.

O ponteiro do relógio, que ontem andou devagar como a porra, já dava suas últimas voltas quando Mancini novamente fez um gesto digno: substituiu Ramon. O técnico poderia muito bem tê-lo deixado em campo se arrastando no final, porém preferiu sacá-lo para que a torcida aplaudisse o seu ídolo.

Logo após ser ovacionado pela massa, o meio-campista compreendeu a atitude do técnico e num gesto de humildade, ou melhor, de HOMBRIDADE, foi lhe cumprimentar e agradecer a oportunidade.

Mais do que os três pontos, esta, pra mim, foi a maior vitória da noite. Ver um homem consagrado mudar de postura e entender que não pode colocar seu projeto pessoal à frente do projeto de uma nação, no caso a nação Rubro-Negra que lhe devota um carinho especial, mesmo ele tendo cometido alguns deslizes nos últimos tempos.

É isto. Às vezes, um ato de nobreza é tão decisivo para o sucesso de um time quanto uma rápida troca de passes entre dois atacantes matadores.

 

* Por conta das estripulias dos últimos tempos, havia prometido não mais escrever o nome de Ramon. Mudei de opinião por conta de sua digna atitude de ontem à noite, que, pra mim, foi mais importante até do que sua boa atuação.

15 Respostas to “HOMBRIDADE”

  1. Mateus Borba Says:

    Putaquepariu e o caralho a quatro!

    Sinto que bons ventos voam pros lados do Toca.

    UBC!

  2. Lucas Serra Says:

    Putaquepariu mesmo Seu Francys, tive quase o mesmo pensamento, só que já imagino os bons resultados no futuro, ontem a partida foi para iniciar a nova era de Mancini no ECV.

    SRN

  3. Lionel Says:

    Grande texto, Franciel.

    (aliás, que demora é essa para atualizar o Ingresia?! Absurdo isso! Inaceitável!)

    Espero que Ramon mantenha a qualidade quando tiver que jogar e a maturidade quando tiver que comer banco.

  4. Victor Nyo Says:

    E assim nós vamos…

    Precisamos agora, por incrivel que pareça, botar na cabeça de Berola que ele pode sim esculhambar os zagueiros quando puder, mas que não é craque.

    Precisamos botar na cabeça de Leandrinho que ele TEM que ser um dos melhores do elenco, pela experiencia e pela qualidade dele.

    Precisamos botar na cabeça de M.A. e F.F. que a poha da bola é pro mato! Pq a poha do jogo é de campeonato…

    Precisamos botar na cabeça de Mancine que um jogador que entra depois dos 40 tem pouco tempo prá mudar o jogo…

    Precisamos botar na cabeça de Mancine que Jackson é sim um jogador importante para o elenco mas que não pode mais jogar 90..

    Precisamos jogar 90 minutos com a seriedade de uma final em qualquer jogo.

    Precisamos espancoestrupar todos os que tentaram ferir o orgulho rubro negro no primeiro turno (Santo andre, Barueri, São Paulo)

    E vamo indo…

  5. Haroldo Mattos Says:

    Como está passando, meu valoroso companheiro? Voce deve ter sentido a minha falta em sua emissora…`
    É que fiquei indignado com o elenco de nossa paixão, que armou uma dos seiscentos para derrubar Carpegiani e sobrou para nós.
    Águas passadas, deixei de me sentir palhaço e voltei a comentar nos blogs.
    E hoje saí em defesa de Vossa Excelencia, no blog de Larissa. Um companheiro rubro-negro Ramonzista, resolveu jogar em cima de Mancini, toda a culpa pelo problema com o grupo ano passado. Ainda levantou a hipótese dele ter implicado com Bida. Por último levantou hipótese de o mestre não sabe de nada do Vitória!
    Quem conhece o tratar da bola e sua mumunhas, sabe que Bida é apenas um bom jogador. O cara não consegue ser titular com tecnico nenhum.O Santos não paga 1 Milhão de Reais por ele, os outros o querem emprestado, porém de graça e o cara ainda é craque?
    Brincadeira…
    Ainda insinuou que quem vos fala nunca jogou bola…
    Foi demais!
    Só faltou me chamar de Itinguense. Aí sim, eu me ofenderia mortalmente! hehehehehehe.
    Abraços,
    Haroldo Mattos

  6. felipe nogueira Says:

    é isso aí seu francis!
    Gostei d vê isso tudo que vc disse, pense numas palavras bem ditas. Se essa garra, esse senso de responsabilidade e profissionalismo contagiar nosso elenco temos tudo para fazer uma participação mais honrosa no campeonato.
    UMBORA TRITÓRIA CARAJO!

  7. Flávia Says:

    Franciel,

    Excelente texto. É uma demonstração evidente que futebol é muito mais que uma bola rolando, é raça, força, determinação, coragem, paixão e muito amor a camisa que veste.

  8. Kant Says:

    Que no próximo jogo voltem as escalações corretas e L. Domingues. Infelizmente, ele e Ramon não podem jogar no time ao mesmo tempo.
    Mas é um cara de superação realmente. Nós, seres rubro-negros devemos ficar contentes por ter um cara capaz de atitudes como a dele.
    Eu continuo com a posição de que ele deve ser escalado em circunstâncias especiais do jogo, e que Bida é o cara certo para titular no time.
    Vida longa para Ramon e ao modo com ele jogou no último bom jogo do Vitória.

    ABrçs!

  9. Anrafel Says:

    Seu Franciel,

    Vou relevar o recurso à célebre platitude caetânica.

  10. valmerson Says:

    seu Francis, este texto assim como a atitude de Ramon é digna de aplausos, muito bom!

    acredito na recuperação do nosso Leão e no jogo contra o Sport teremos a nossa segunda Vitória fora de casa embalando de vez no campeonato!

    SRN

  11. Alberto Says:

    Não concordo… que o cara sabe(soube) jogar bola é incontestável… nada mais natural que uma vez ou outra ele jogue bem! Além do mais não acredito na moral e hombridade de seu gesto.. para mim ele quis somente angariar o mais o respeito dos torcedores para que mais vezes clamem seu nome para que em mais partidas ele entre, nada mais que isso.

  12. canijah de moreré Says:

    E o que dizer do fiasco de ontem. Aonde tá o ponto de equilíbrio do coletivo? O problema tá na falha individual ou a atitude de Leandro Domingues não contagiou a todos? Toma gol e não consegue reagir!!! Puta que Pariu!!!

  13. Anrafel Says:

    Das mumunhas da estatística ou sobre a qualidade dos gols:

    Roger fez 9 gols em 14 jogos. Dá 0,64 por jogo, que é uma média razoável. Só que, desses 14, 6 foram feitos em 3 jogos: duas goleadas, 4a1 no Santo Andre e 6a2 no Botafogo, onde fez 2 em cada. Se tivesse feito, nesses 2 jogos, só um gol e deixasse os 3 restantes para dividir equanimemente nas partidas contra Palmeiras, Inter e Galo MG, onde perdeu milhares de gols feitos, o Vitória ainda estaria na zona da Libertadores.

    É isso aí ou falta do que fazer dá nisso.

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