BEBENDO NA FONTE

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Mais descontrolada do que um raio da silibrina, ela, a musa, a deusa, a mitológica, a heroína, a pentelha, a Moça do Shortinho Gerasamba (que não foi à peleja de ontem porque na sua concepção lugar do Vitória é apenas no Barradas), nem esperou o início da resenha e, só por causa do título do texto, já foi logo descarregando toda a sua ira incontida.

Ô, sinha mizera, você num me garantiu que estava abstêmio, que ia somente ver a disgrama do jogo naquela pocilga, sem ingerir nenhum gole de canjebrina nem outras mumunhas? Como é que agora você já vem com esta conversa mole de bebedeira no estádio?”

Ah, a incompreensão humana. Minha comadre, tenha sua calma. Daqui a pouco, no decorrer da homilia, lhe explico o real significado de “BEBENDO NA FONTE”. Antes, porém, solicito um parágrafo para informar sobre algo, digamos assim, transcendental.

Seguinte.

Uma vez mais, a torcida Rubro-Negra compareceu à Velha/Nova Fonte dizendo um clássico NÃO em caixa alta e negritado a estes novidadeiros e (mal) ditos bons modos de torcer, exigidos por esta tentativa de transformar o futebol em uma coisa asséptica. Não e nécaras. Durante os 90 minutos e as parcas prorrogações, a multidão, em fúria, vibrava, gritava, xingava e aplaudia, de pé, como se estivesse (e estava) possuída pelo espírito do Barradão. Novamente, prevaleceu a sábia e civilizatória barbárie que se recusa à domesticação. (Sobre a velha gênese desta nova rebeldia já rabisquei estas prosopopéias aqui, ó http://impedimento.org/civilizacao-na-bahia-e-barbarie/).

E, como sói acontecer, o time incorporou este espírito selvagem. Aliás, por afeição à verdade, faz-se mister registrar que tal fato ocorreu antes mesmo de a bola rolar. Finalmente, o técnico Mancini parece que se convenceu que algumas velhacarias não funcionam. E resolveu beber na fonte da melhor base do Brasil. E foi uma deliciosamente insana embriaguez.

O ponteiro do relógio (sim, ponteiro do relógio. Afinal, quem fica olhando para o tempo no telão é zé ruela que vai às partidas só pra tirar selfies) não marcava nem 15 minutos e o endiabrado David, com seus 20 anos incompletos, aprontou umas estripulias na zona do agrião e….Big Bang. Fez-se a explosão inicial que marcou o início dos novos tempos. Golaço do guri que, pela primeira vez, jogou os 90 minutos como titular. Jogou é modo de dizer. O sacana deu aula de futebol, deixando frustradas todas as viúvas do desengonçado Rogério.

A jovialidade selvagem do guri contaminou até mesmo o letárgico Pedro Ken, que há séculos dormia em berço esplêndido no latifúndio improdutivo da meiúca Rubro-Negra. Numa jogada genial, o Camisa 8 deu uma enfiada (lá ele) para Diego Renan fuzilar a meta adversária. 2 x 0. E todo mundo ébrio.

O segundo tempo, contudo, inicia-se sob o signo da ressaca. Logo nos primeiros minutos da etapa complementar, o Mogi Mirim desconta e a casa começa a feder a homem. Novamente, o batalhão da mocidade volta ao protagonismo para espantar os milenares fantasmas da boréstia & insegurança. Primeiro, com o incansável Flavio, que quase fez um gol de placa, mas a bola, talvez bêbada, inventou de beijar o travessão. Depois, foi a vez de David usar a cabeça e exigir grande defesa do goleiro Mauro. Por fim, o perseguido e injustiçado Euller trabalhou com a habilidosa canhota e guardou o seu primeiro gol na competição. Por falar em gol, Elton, o camisa 9, também ingeriu a canjebrina da fonte da juventude. Ao receber um passe primoroso de David, fechou o caixão do time paulista. E todos os 16 mil ébrios fomos, felizes, beber o defunto.

 

P.S Agora, é torcer para que Mancini não acorde ressaqueado e queira ressuscitar os mortos. Bato na madeira 839 mil vezes. Talvez nem precise. Afinal, ontem, em vez de apelar ao paciente terminal Marcelo Matos, ele bebeu na fonte da base e apostou na juventude de Marcelo, que, segundo meu amigo Pedro, é um Pobga lambuzado de dendê. E melhorado, pois não.

4 Respostas to “BEBENDO NA FONTE”

  1. Mateus Borba Says:

    Que Marcelo (o da base) volte aos bons tempos de Matuidi do Sertão, pra que Mancini não invente de botar Marcelo (o Matos) nem que seja aos 45 do segundo tempo.

  2. Canijah de Moreré Says:

    Francineide nem molhou as madeixas debaixo daquele cacau que caiu durante o jogo!

  3. Duilio Camardelli Says:

    Franciel, vôce já garantiu seu assento na ACADEMIA BAIANA E BRASILEIRA DE LETRAS.
    Vou lançar a campanha.
    Abcs.

  4. Cleber Says:

    Excelente texto, contudo, o nobre signatário há de convir que Euller carrega em seu currículo inúmeros diplomas: entregador de pizza, de água, de gás, moto-boy, carteiro…. enfim… o moleque tem vasta experiência quando a palavra é entregar e ele vai ter que comer muito feijão com rapadura pra mudar essa imagem.

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